Samurais e ronins, e os poderosos chefes de clãs nobres e guerreiros do Japão da época do final das guerras, no início do século XVII, quando se inicia o período Edo, são algumas das imagens e nomes que mais ressoa em todos os entusiastas de literatura de guerra e de aventura.
É neste ambiente que decorrem as histórias de Kubidai Hikiukenin, um dos mais famosos mangas ambientados num período histórico. E se a imaginação dos leitores se empolga com os feitos dos samurais, das batalhas e conflitos em que se regiam pelo bushido, a via do guerreiro, toda ela feita de honra e desprezo pela morte, o próprio título deste volume anuncia que as histórias aqui incluídas se afastam, e bem, dessas premissas: O Preço da Desonra. Porque é dos traços opostos aos do bushido que estas histórias tratam: de medo de morrer, de promessas de dinheiro a troco de ter a vida salva, da vergonha e da desonra que isso acarreta para aqueles que assinaram no campo de batalha essas notas promissórias…
É desse modo que Hanshiro, o cobrador de dívidas que vem reclamar esse dinheiro que comprou vida a troco de vergonha e desonra, funciona como um observador imparcial, mas sensível, da verdadeira realidade da vida dos samurais num dos períodos mais conturbados da história do Japão.
Hiroshi Hirata nasceu em 1937, na cidade de Tóquio, e desde muito cedo se interessou pelo mundo dos mangas. Aos 21 anos publica a sua primeira história no género histórico, o jidaigeki, na revista Mazo. Começou assim uma longa carreira em que se notabilizou como um dos grandes mestres do estilo gekigá (dramas realistas e históricos), com histórias centradas nos samurais e no rígido código de honra que norteia as suas vidas, o bushido.
Alcançou grande notoriedade com a série Satsuma Gishiden, com um estilo comparável ao de outros mestres como Sanpei Shirato em Kamui-Den, ou Goseki Kojima, em Lobo Solitário. O Preço da Desonra: Kubidai Hikiukenin, foi publicado originalmente de 1971 a 1973, e é pela primeira vez publicado em Portugal numa edição definitiva que reúne todas as histórias clássicas de Hanshiro, um ronin cobrador de dívidas.
Para além do reconhecimento que obteve como mangaka, Hirata era um calígrafo de grande renome, tendo criado a caligrafia do título do manga Akira. Admirado por figuras como Yukio Mishima e Jodorowsky, a sua obra acabaria por torná-lo num dos maiores dos expoentes do gekigá e influenciar gerações posteriores. Faleceu em 2021, aos 84 anos de idade.
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