Quando em 1958 Elise chega a Paris, oriunda de Lyon, para se lançar no mundo da música e do espectáculo, a Guerra pela independência da Argélia dura há já 4 anos. E ao mesmo tempo que Elise descobre os bairros da lata de Nanterre onde, mantidos à distância, os trabalhadores argelinos (entre outros) permanecem invisíveis, as manifestações contra a guerra e a chegada de De Gaulle ao poder multiplicam-se nas ruas de Paris, antecedendo o movimento de Maio de 1968.
Com desenho de Jacques Tardi - mestre incontestável da reconstrução histórica e da crítica social – e argumento da cantora Dominique Grange – sua companheira de há muitos anos - Elise e os novos partisans - conta-nos o trajecto de Elise, uma jovem cantora que acaba por virar as costas ao mundo do espectáculo para se juntar aos grupos que, na época, lutam contra a exploração dos trabalhadores, a injustiça social e o racismo. Um percurso pessoal atípico que é, em simultâneo, um relato de uma época de crucial importância para a história de França e da Europa do século XX.
Sobre os autores:
Dominique Grange nasceu em 1940 em Aix-les-Bains, França e, para além de militante política, é autora-compositora-intérprete e tradutora de banda desenhada.
Em 1958, com 18 anos, desloca-se de Lyon para Paris onde prossegue os seus estudos na Escola Superior de Intérpretes da Sorbonne e frequenta cursos de Arte Dramática, iniciando uma carreira como comediante. A sua participação no movimento de Maio de 1968 leva-a no entanto a abandonar a música tradicional e a representação, trocando-as pela canção contestatária. Escreverá canções que se tornarão importantes hinos militantes, como é o caso de « Les Nouveaux Partisans » ou « À bas l’État policier».
Em 2021, Dominique Grange assina o argumento da novela gráfica “Elise e Os Novos Partisans”, desenhada pelo seu esposo Jacques Tardi, na qual conta o percurso de uma jovem “politicamente comprometida” que é, em grande parte, inspirado na sua própria vida.
“Elise e os Novos Partisans”, serviu de base ao documentário cinematográfico “Não Apaguem os Nossos Rastos”, que tem a assinatura do português Pedro Fidalgo.
Nascido em Valence, França, em 1946, Jacques Tardi estudou na Academia de Belas Artes de Lyon e na Escola Superior de Artes Decorativas de Paris antes de, em 1969, publicar a sua primeira história de banda desenhada na mítica revista Pilote: trata-se de “Un Cheval en Hiver”, história de seis páginas cujo argumento é assinado por Jean Giraud. Depois de outras colaborações, nomeadamente com Serge de Beketch, a sua primeira história “em continuação” surge em 1971: trata-se de uma história de ficção política, “Rumeur sur le Rouergue”, cujo argumento tem a assinatura de Pierre Christin. No ano seguinte, com argumento próprio, surge “Adieu Brindavoine”, história onde já se denota o estilo que caracterizará a sua obra futura e a sua paixão pela Primeira Guerra Mundial. Em 1974 é publicada, pela editora Dargaud e directamente em álbum, a BD “O Demónio dos Gelos” (novamente com argumento de Christin). No mesmo ano surge ainda, na Futuropolis, “La veritable histoire du Soldad Inconnu” e em 1975, a história “Un épisode banal de la guérre des tranchées”, inicialmente rejeitada pela Dargaud, é publicada como suplemento no jornal Libération.
Em 1976, a editora Casterman publicou o primeiro livro daquela que viria a tornar-se, em França, a sua série mais popular: Adéle Blanc-Sec, uma homenagem aos folhetins do princípio do século XX. Esta série, que tem como particularidade o facto de a protagonista principal ser uma mulher, conta neste momento com um total de 10 álbuns e teve, em 2010, uma adaptação ao cinema efectuada por Luc Besson.
Vencedor do Grande Prémio da cidade de Angoulême em 1985 e do Prémio Saint-Michel, em 1977 e 1979, Tardi recebeu várias outras distinções, incluindo três outros prémios no Festival de BD de Angoulême, dois prémios Max e Moritz (Alemanha), dois Eisner Awards (Estados Unidos) e um Einhard-Preis (Alemanha).
Para além disso, Tardi foi ainda distinguido pelo governo francês com a Ordem de Cavaleiro das Artes e das Letras.
Elise e os novos partisans, Jacques Tardi e Dominique Grange, Ala dos Livros, 176 pp., p&b, capa dura, 29,90€
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