"Imagens de uma revolução - 25 de abril e a banda desenhada", publicado esta semana, é um livro informativo assinado por João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva-Boléo e João Ramalho Santos, que contextualiza, identifica e analisa algumas das obras de banda desenhada publicadas sobre a revolução de Abril de 1974, sobre a guerra colonial, sobre as disputas partidárias e transição para a democracia.
Para os três autores, a década de 1970 "não será uma das épocas mais pujantes no campo da BD, sendo essencialmente um período de transição. [...] É uma época de mudança por excelência, em que se encontram as raízes de uma pluralidade e amadurecimento de tendências que só com o tempo se começa a tornar evidente, e que é uma época rica de propostas, ainda que mais ou menos efémeras".
Por um lado, assiste-se ao fim do "período áureo" de publicações como Mosquito e Cavaleiro Andante e abre-se o caminho para a "explosão" da edição de álbuns na década de 1980.
No período que se seguiu à revolução, sobretudo até 1976, a linguagem da banda desenhada foi uma "presença quase constante, e em posição de destaque, em publicações que procuravam não só estimular lutas de trabalhadores já em curso, como ainda relembrar as bases da resistência pré-25 de Abril".
A banda desenhada era ainda usada como ferramenta de comentário político e social, protagonizada por algumas das figuras do panorama nacional, de Mário Soares a Álvaro Cunhal, e publicada em "locais de grande circulação e impacto", como os jornais.
No livro, profusamente ilustrado com páginas de várias BD, há ainda um capítulo dedicado à banda desenhada que retratou a guerra colonial e à descolonização, outro sobre a utilização da BD para fins pedagógicos e ideológicos e outro ainda sobre as abordagens mais recentes à temática da revolução.
Segundo os autores, "a principal e mais desenvolvida história do 25 de Abril em banda desenhada" é "O país dos cágados", de Artur Correia e António Gomes de Almeida: "Pode considerar-se um livro quase clandestino em democracia. Concebido e realizado poucos anos depois do 25 de Abril, só viria a ser publicado, em edição dos autores, em 1989" e teve uma edição comercial colorida e atualizada em 2012.
"O Capital - Karl Marx", de Carlos Barradas e publicado em 1978, é apresentado como "uma obra-prima da BD didática empenhada", enquanto "Os Vampiros" (2016), de Filipe Melo e Juan Cavia, é descrito como "a mais importante BD portuguesa tendo como cenário a guerra colonial; uma obra ambiciosa e perturbadora".
No período pré e pós-revolução, os investigadores sublinham ainda a publicação do "mais belo álbum da época", "Wanya, escala em Orongo” (1973), de Nelson Dias e Augusto Mota, e "Mário e Isabel" (1975), "um hino à liberdade e à exaltação do corpo", de Isabel Lobinho.
Não são esquecidas referência a João Abel Manta, José Vilhena, Fernando Relvas, Augusto Cid e Nuno Saraiva, e ainda ao "mais importante livro nacional sobre o período salazarista", intitulado "Salazar: Agora, na hora da sua morte" (2006), de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim.
"Imagens de uma revolução - 25 de abril e a banda desenhada" inclui ainda uma cronologia breve de acontecimentos que ajudam a enquadrar a revolução de Abril de 1974 e "uma breve síntese histórica" sobre o movimento marxista-leninista português, pelo jornalista Nuno Pacheco.
"Imagens de uma revolução - 25 de abril e a banda desenhada" é uma edição conjunta das editoras Levoir e A Seita e contou com apoio do Garantir Cultura.
LUSA
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