A meio do caminho desta vida, encontrei-me numa floresta escura...
Com estas palavras, inicia-se um dos maiores clássicos da literatura, A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Com uma mestria rara, os irmãos Brizzi recriam uma das obras mais difíceis e complexas da literatura europeia, tornando-a acessível a uma geração inteira de leitores, numa narrativa simultaneamente fascinante e terrível.
A Divina Comédia é frequentemente considerada como a obra fundadora da literatura europeia em língua vernácula, por oposição ao latim que imperava na Idade Média. Obra complexa, poema épico e extraordinariamente sofisticado (e intitulado “comédia” por oposição à “tragédia”, por acabar bem), foi também o culminar de uma certa visão da civilização europeia do mundo, mas também dos “outros mundos”: os mundos divinos, celestiais, mas também os infernais, o Inferno, que constitui o primeiro livro dos três da Comédia, e que formou a sua imagem definitiva na psique europeia até hoje, a de um Inferno dividido em nove círculos, progressivamente mais profundos e cheios de pecadores progressivamente mais amaldiçoados.
Ao longo dos séculos, este Inferno de Dante foi objecto de inúmeros tratamentos visuais, entre os quais podemos citar as maravilhosas ilustrações de Gustave Doré, no século XIX, ou mais próximas de nós, as de Dalí ou as que o pintor Lima de Freitas realizou no nosso país, ou mesmo as de Mattotti ou Moebius, dois dos maiores nomes da BD. Os irmãos Brizzi pegaram na longa e rica tradição de ilustração de clássicos, para construírem um livro imponente, que cruza vistas titânicas dos abismos infernais, com pranchas que relatam as emoções à escala humana, constantemente reflectidas na face de Dante, de uma maneira absolutamente surpreendente.
Mas, para além do seu trabalho gráfico inultrapassável, os irmãos Brizzi realizaram uma notável transcrição do texto medieval, reescrevendo para os leitores modernos a narrativa original sem a trair, e mantendo os seus pontos mais importantes: o gosto pela desmesura, a contínua tensão dramática da narrativa, e o negro e sombras que oprimem as regiões infernais mais profundas.
“Um pináculo da arte gráfica”
Cédric Pietralunga, Le Monde
“Uma grande obra de arte, um livro a meio caminho entre a narrativa ilustrada e a banda desenhada”
Emmanuel Khérad, La Librairie Francophone, France Inter
“A partir de um monumento da literatura mundial, Paul e Gaëtan Brizzi criaram um monumento da arte gráfica”
Michel Troadec, Ouest France
Gaëtan e Paul Brizzi são irmãos gémeos, nascidos em 1951, e moram em França e nos Estados Unidos. São realizadores de filmes de animação, pintores, ilustradores e autores de BD. Destacaram-se pela qualidade das suas curtas de animação, com destaque para Fracture, nomeada para um César em 1977. Foram dos poucos franceses que trabalharam para a Disney, e a terem dirigido um estúdio de animação, e devemos-lhes, entre outros, Astérix et la surprise de César e O Corcunda de Notre-Dame, e a realização da sequência de O Pássaro de Fogo no filme Fantasia 2000. Entre 2015 e 2020 lançam adaptações em BD bem sucedidas de obras de Céline, Boris Vian e Balzac. Em 2023, lançam esta adaptação de O Inferno de Dante, a que se segue um segundo livro desta coleção, Dom Quixote de la Mancha (a editar pela Arte de Autor e pel’A Seita no Outono de 2024).
A edição da Arte de Autor e d’A Seita inclui um extenso caderno de extras, com esboços e estudos de personagens, não publicados na edição normal francesa, e um texto explicativo dos autores sobre o seu método de trabalho, e também uma tiragem especial com uma capa alternativa exclusiva da Wook.
Inferno de Dante, Gaëtan e Paul Brizzi, Arte de Autor/A Seita, 168 pp. (inclui caderno de extras), p&b, capa dura, 29€
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