4 de março de 2022

Branco em redor

Março é o mês dedicado ás mulheres pelo que o livro que agora se apresenta é inspirado nelas.

Esta história, inspirada em factos reais, desenrola-se no ano de 1832, em Canterbury, uma pequena cidade tranquila do Connecticut, trinta anos antes da abolição da escravatura, na região norte dos Estados Unidos esta já fora abolida. Aqui, os negros são «livres», mas não têm nenhum direito de cidadania. Negros, aliás, há muito poucos. E a maioria branca que ali vive pensa muitas vezes que ainda assim são de mais…

"Branco em redor" ("Blanc autour", 2010) revela-nos o percurso conturbado e verídico de uma escola reservada a raparigas negras no Connecticut no século XIX onde a liberdade, igualdade de género, direito à educação, antiracista e a segregação social são abordadas, temas que ainda hoje em dia estão na agenda mundial.

Prudence Crandall administra uma escola para meninas. Um dia, uma menina negra pede para se inscrever. É o início de uma batalha entre a “comunidade” de Canterbury e a escola que se tornará a primeira escola exclusiva para meninas negras nos Estados Unidos. 

Classificado como local histórico nacional, o museu Prudence Crandall, vestígio da Canterbury Female Boarding School, comprometeu-se com a luta pela equidade na educação, inscrevendo a escola no coração da história da luta mundial pelos direitos cívicos e encorajando o seu público a tomar parte no debate cívico e nas acções civis.

Wilfrid Lupano nasceu em Nantes em 1971, mas é em Pau que passa a maior parte da sua infância. Uma infância rodeada de banda desenhada dos pais, embora seja sobretudo numa prática assídua do papel que ele deve o seu imaginário desenfreado e o seu gosto pela escrita. 

Mais tarde, trabalha nos bares para financiar os seus estudos - um pouco de filosofia e uma licenciatura em inglês -, onde se encontra com dois futuros amigos e associados, Roland Pignault e Fred Campoy. Juntos, realizam um western humorístico, Little Big Joe (Delcourt), cujo primeiro livro aparece em 2001. Reincide com Virginie Augustin e "Alim, o curtidor", uma história fantástica em quatro volumes, que termina em 2009. Entretanto, a sua carreira está lançada, e seguem-se os títulos: "L'assassin qu'elle mérite", "L'Homme qui n'aimait pas les armes à feu", "Le Singe de Hartlepool", "Azimut"... Em 2014, Wilfrid Lupano obtém o Fauve do melhor policial com "Ma Révérence".  Para a Delcourt, escreve o argumento mudo de "Un océan d'Amour" para Gregory Panaccione, que recebe o prémio BD FNAC 2015.

Na Dargaud, a série"Les Vieux Fourneaux", com Paul Cauuet no desenho, tem um enorme sucesso. Esta comédia social com fragrâncias de luta de classes e de choque das gerações encena três septuagenários, amigos de infância, bem decididos a aproveitar o pouco tempo que lhes resta... para irritar o mundo! Uma história que mescla humor, ternura, nostalgia, temas de sociedade (trabalho, ecologia, política,...) e uma certa visão do mundo actual. Levada pelos livreiros e leitores, saudada pela crítica, a série é recompensada pelo Prémio do Público - Cultura em Angoulême em Janeiro de 2015.

Em 2017, o ano Valeriano é uma oportunidade para Mathieu Laufray colaborar com Wilfrid Lupano em torno de uma aventura jubilar dos dois agentes espaciais-temporais revisitada por seus cuidados: "Shingouzlooz.Inc".

Em 2018, além do cenário do livro 5 Les Vieux Fourneaux, Wilfrid Lupano também assina o cenário do filme de mesmo nome. Dirigido por Christophe Duthuron, inclui Pierre Richard, Eddy Mitchell e Roland Giraud nos respectivos papéis de Pierrot, Mimile e Antoine.

Em 2019, continuou as aventuras do "Loup en Slip" com Mayana Itoïz, série infantil, derivada do universo dos Les Vieux Fourneaux, cujo primeiro livro foi publicado em 2016. As temáticas sociais fortes e gritantes de actualidade, queridas ao autor, são abordadas à altura de uma criança.

Em 2020, Wilfrid Lupano termina o ano em fanfarra com três publicações esperadas: as continuações das séries Les Vieux Fourneaux e Le Loup en Slip mas também um one-shot, "Blanc Autour", desenhado por Stéphane Fert.

Após muitas horas de jogos de papel, rabiscos à margem de cadernos de aula, uma passagem pelas belas artes e alguns anos de estudos na animação, Stéphane Fert opta por trabalhar na ilustração e na banda desenhada. Começa por publicar em grupos como Jukebox ou Café Salé

Em 2016, desenha e escreve, com Simon Kansara, "Morgana" (Delcourt), que se propõe derrubar a Mesa Redonda abordando o ciclo artúrico do ponto de vista da fada Morgana

Em 2017, retrata "Quand le cirque est venu" (Delcourt), um conto de Wilfrid Lupano sobre a liberdade de expressão. Lança-se depois a solo, em 2019, com um «conto de bruxas»: "Peau de Mille Bêtes" (Delcourt) questionando a representação dos géneros no conto de fadas. 

Em 2020, encontra-se com Wilfrid Lupano para "Branco em redor" (Dargaud), um one-shot extraído de uma história verdadeira que aborda o afro-feminismo no século XIX. Entre as suas influências, Stéphane cita Mary Blair, Mike Mignola, Lorenzo Mattotti, ou ainda Alberto Breccia. A pintura também tem um lugar muito importante nas suas inspirações.

Branco em redor, Wilfrid Lupano e Stéphane Fert, Arte de Autor, 144 pp., cor, capa dura, 27€


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