Só lhe resta uma solução: livrar-se do bicho antes que cause mais danos. Mas como? Até que ponto somos responsáveis pelos nossos problemas e de que forma dependerá de nós encontrar a sua solução?
Joana Mosi é uma das mais criativas e inovadoras autoras portuguesas de BD contemporânea, embora só agora, com este O Mangusto, tenha assinado uma obra de fôlego, que permita apreciar toda as suas qualidades como autora completa - argumentista e desenhadora. Mosi surgiu inicialmente ao público com a série de três comics Altemente, uma narrativa “slice of life” sobre uma residência artística que efectuou na aldeia de Alte, no Algarve, a que se seguiu Nem Todos os Cactos têm Picos, outra pequena narrativa de carácter parcialmente autobiográfico sobre a adolescência. Desenhadas num estilo claramente influenciado pelo mangá, estas obras contrastaram fortemente com o seu primeiro álbum, lançado em 2019, O Outro Lado de Z, que no entanto, paradoxalmente, tinha sido iniciado muito antes dos outros, e que foi também a sua primeira obra em colaboração, desta feita com o argumentista Nuno Duarte.
Joana Mosi focou-se depois na sua aprendizagem do audiovisual, mas também no ensino, e em projectos próprios na área do fanzine ou de antologias, que revelaram uma vontade de experimentação no estilo e grafismo muito grande. Depois de vencer uma das bolsas de Criação Literária da DGLAB, Mosi desenvolveu o livro que viria a ser O Mangusto durante uma residência no estrangeiro, onde, por motivos completamente aleatórios, se viu forçada a fazer o livro em desenho digital. Isso resultou num estilo inteiramente novo, algo estilizado, mas tremendamente eficaz na capacidade narrativa, e na criação de modos de planificação e de organização das páginas muito diferentes dos seus anteriores trabalhos.
Nas palavras de Pedro Cleto, crítico e jornalista de BD (Jornal de Notícias), “devemos atentar em especial na forma como a Joana gere os tempos, o movimento e a dicotomia som/silêncios”. O Mangusto explora os relacionamentos familiares, as angústias do dia-a-dia - e dos acontecimentos mais súbitos e inesperados - e a maneira como a protagonista da narrativa vai viver a necessidade de se adaptar a uma realidade diferente na sua vida.
Joana Mosi é artista visual, licenciada em Pintura pelas Belas-Artes e Mestre em Cinema. Das suas obras em banda desenhada destacam-se a série Altemente (2016, ComicHeart), Nem Todos os Cactos têm Picos (2017, Polvo), O Outro Lado de Z (com Nuno Duarte, Comic Heart/Kingpin Books), Both Sides Now (2020, Ao Norte), My Best Friend Lara (2021, auto-edição) e The Apartment (2022, kuš!) É formadora e professora em várias instituições, e colabora regularmente com actividades e iniciativas culturais, a nível nacional e internacional.
O Mangusto, Joana Mosi, A Seita, Colecção Comic Heart, 184 pp., p&b, capa dura, 25€
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