14 de janeiro de 2023

A rainha dos canibais


Outro álbum de A Seita com data de edição de 2022 que agora é disponibilizado nas bancas e livrarias.

 “...Não se ponha agora com medos, estes são os territórios virgens! Iremos encontrar toda a espécie de bichos inimagináveis...”  

Depois de quase uma década passada sobre o seu último livro, Salazar, Agora, na Hora da sua Morte (com argumento de João Paulo Cotrim), Miguel Rocha, um dos maiores e mais aclamados autores de BD nacionais regressa com este seu A Rainha dos Canibais, uma viagem através do colonialismo e do império português, da África imaginada e romantizada, e de um exotismo que lembra o dos pulps, onde este livro vai buscar muita da sua inspiração. Uma viagem feita num espectacular desenho a preto e branco, solto e vibrante, que respira as cores da África mesmo sem que elas apareçam nas páginas do livro, num estilo surpreendentemente novo do autor. Um livro de um humor sardónico e mesmo sarcástico, frequentemente imbuído de nonsense, cheio de crítica mordaz e demolidora aos portugueses do tempo do colonialismo, e à sua hipocrisia e crueldade.

Bárbara acaba de cair numa África sem tempo nem lugar fixos, onde rapidamente se entranhará por territórios misteriosos e míticos, que são também os territórios maravilhosos da imaginação. Aí, ela encontrará K’Merit, uma amazona negra, tribos selvagens e feras bestiais, e, bem mais perigosos e cínicos, colonos, soldados, o seu marido Armando e toda a trupe dos representantes da civilização colonialista com o seu racismo, sobranceria e incompreensão das realidades distantes. Tudo numa sequência arrebatante de aventuras e acção, exotismo e humor, onde vemos também toda a homenagem que o autor faz à BD de aventuras e dos pulps da sua juventude.

“...Poderemos ler, então, A Rainha dos Canibais como uma ode, ou antes uma cantiga de escárnio, ao imaginário euro-colonialista, paternalista, imperalista e chauvinista que tanto tempo pautou estas produções (...) Em suma, o livro de Rocha vasculha todo um corpo de ficções que foram eficazes na construção daquilo que Edward Said chamou de “geografias imaginárias” e que nutrem muitas das ideias feitas ou distorcem a percepção dos factos mesmo nos dias de hoje. A Rainha não é uma “revisitação” tão-somente, “homenagem” ou “recuperação”, mas antes um gesto de desmontagem sarcástica desse mesmo imaginário através de uma estrutura quase absurda...

Pedro Vieira de Moura, in LerBd.pt

Publicitário, ilustrador e autor de banda desenhada, Miguel Rocha nasceu em 1968, em Lisboa. Frequentou um curso de Artes e Técnicas na Escola António Arroio e o curso de Desenho da Sociedade Nacional de Belas Artes. Começou por trabalhar em artes gráficas e publicidade como ilustrador. Só no fim dos anos 90 publicou livros que o revelaram como um dos mais inovadores autores de banda desenhada portuguesa, álbuns como por exemplo As Pombinhas do Sr. Leitão, Borda d’Água, Eduarda, etc...  Ao longo dos anos, a solo e em colaboração, desenhou alguns dos livros de BD mais marcantes da actualidade, entre os quais devemos citar Beterraba, o seu primeiro longo “romance” gráfico, que arrebatou os prémios para Melhor Livro e Melhor Desenho no Festival de BD da Amadora de 2004, ou Salazar, Agora, na Hora da sua Morte, em 2006 (com argumento de João Paulo Cotrim). Hans, o Cavalo Inteligente, de 2013, foi o seu último livro de BD durante quase dez anos, até este A Rainha dos Canibais.

A rainha dos canibais, Miguel Rocha, A Seita, 208 pp., p&b, capa dura, 24€










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