12 de setembro de 2025

O Grande Poder do Chninkel: Uma Obra-Prima da Fantasia Franco-Belga

O Grande Poder do Chninkel (Le Grand Pouvoir du Chninkel) é uma das mais notáveis obras da banda desenhada franco-belga, criada pela dupla Jean Van Hamme (argumento) e Grzegorz Rosiński (desenho). Publicada inicialmente entre 1986 e 1987 na revista À Suivre, a história foi posteriormente compilada em três volumes e colorida por Graza. A obra mistura elementos de fantasia, ficção científica e parábolas bíblicas, sendo considerada uma das primeiras graphic novels da história da banda desenhada europeia. 

A presente edição é a compilação dos três volumes originais, ainda a preto e branco. 

A trama se passa no planeta Daar, onde três imortais — Zembria, Barr-Find e Jargoth — travam uma guerra eterna, subjugando diversas raças, incluindo os Chninkels, seres ostracizados e escravizados. O protagonista, J’on, um Chninkel, sobrevive a uma batalha mortal e é escolhido por U’n, o criador dos mundos, para pôr fim à guerra e restaurar a paz. Dotado de um “Grande Poder”, J’on torna-se, sem querer, o messias esperado que mudará para sempre o curso do mundo.

Grzegorz Rosiński utiliza um estilo gráfico detalhado e expressivo, com influências de artistas como Moebius e Bilal. A sua arte transmite uma sensação de grandiosidade e profundidade, essencial para a ambientação do mundo de Daar. A colorização posterior por Graza adiciona camadas de atmosfera, enriquecendo ainda mais a experiência visual.

O Grande Poder do Chninkel conquistou o Prémio do Público no Festival de Angoulême em 1989. A sua abordagem madura e filosófica, aliada à qualidade artística, elevou o status da banda desenhada como uma forma de arte séria e literária. Embora inicialmente planeada como uma história única, a obra permanece como um marco isolado, sem sequências ou prequelas, preservando a sua integridade narrativa.

O Grande Poder do Chninkel [integral], Grzegorz Rosiński e Jean Van Hamme, Arte de Autor, 310 pp., p&b, capa dura, 31€

A BD na Colina das Artes

 Com a colaboração da  Turbina Associação Cultural:


com a participação das seguintes editoras e livrarias:

A Seita  / Ala dos Livros / Arte de Autor / BD Mania / Chili com Carne / Devir / Djinn / Edições Asa
El Pep / Escorpião Azul / Gorila Sentado / Levoir / Polvo / Quarto de Jade / Sendai / Ucha Edições e
Umbra


Uma exposição documental, com imagens em grande formato com as participações de António Jorge Gonçalves com Nuno Artur Silva, Filipe Abranches com A.H. de Oliveira Marques, Juan Cavia com Filipe Melo, José Smith Vargas, Luís Louro, Marta Teives com Pedro Moura, Miguel Rocha com Alex Gozblau e João Paulo Cotrim, Nuno Saraiva com Ferreira Fernandes, Ricardo Cabral e Rita Alfaiate com Nuno Duarte


Sessões de autógrafos previstas:

Dia 13 – 15h/17h - André Oliveira, António Jorge Gonçalves, Barbara Lopes, Filipe Abranches, João Amaral, João Maio Pinto, Margarida Madeira, Nuno Saraiva, Pedro Moura e Vasco Colombo,

Dia 13 – 17h/19h - Daniel da Silva Lopes, Diniz Conefrey, Inês Fetchónaz, João Gil Soares, Pepdelrey e Rita Alfaiate

Dia 14 – 15h/17h - André Mateus, Daniel Maia, Daniela Viçoso, Filipe Duarte, Osvaldo Medina e Rubem Mocho

Dia 14 – 17h/19h - André Morgado, Daniel da Silva Lopes, Pepdelrey e Rita Alfaiate

11 de setembro de 2025

Histórias à Sombra do Montado: Banda Desenhada celebra a identidade alentejana

Cinco escritores e quatro artistas visuais uniram-se para criar novas histórias de banda desenhada que prestam homenagem ao montado de sobro, um dos maiores símbolos da identidade alentejana e um ecossistema fundamental para Portugal.

O projecto “Histórias à Sombra do Montado”, criado em 2022 pela Ronha – Associação Cultural com o apoio do programa Odemira Criativa, promovido pela Câmara Municipal de Odemira, regressa em 2025 com a sua terceira edição.

O montado de sobro ocupa cerca de 23% da área florestal nacional e é considerado um dos ecossistemas mais importantes do país. Para os criadores do projeto, Rita Gonzalez e Hugo Tornelo, a banda desenhada é uma forma de preservar e partilhar esta herança viva.

O montado é um dos ecossistemas mais importantes de Portugal, uma herança viva que cria memórias, e é isso que queremos preservar e partilhar”, sublinha Hugo Tornelo.

Nesta edição, os textos foram escritos por José Riço Direitinho, Isabel Moreira Marques, João Pedro Vala, Susana Moreira Marques e Isabel Minhós Martins.

A adaptação para a linguagem visual esteve a cargo de Miguel Rocha, Biakosta, Joana Estrela e André Pereira.

Cada história alia valor artístico e reflexão ambiental, convidando os leitores a redescobrir o montado e a importância da sua preservação.

Para além da criação artística, a edição inclui também um conjunto de boas práticas para a conservação e regeneração do montado, desenvolvido em parceria com o projeto LIFE Montado – Adapt, que procura mitigar os impactos das alterações climáticas neste ecossistema.

Segundo Hugo Tornelo, o projeto valoriza o património natural do Alentejo e pretende que as histórias ajudem a população a reforçar o sentimento de identidade, pertença e consciência ambiental.

Tal como nas edições anteriores, a publicação será distribuída gratuitamente em todo o concelho de Odemira e estará também disponível em formato digital no site oficial do projecto, garantindo acesso a toda a comunidade.

Histórias à Sombra do Montado” continua a crescer como um projecto cultural único, onde a banda desenhada dá voz às árvores, às paisagens e às memórias do Alentejo. Mais do que um livro, é um convite a olhar para o montado com outros olhos — de cuidado, respeito e pertença.

Dormindo entre cadáveres

Dormindo Entre Cadáveres é uma romance gráfico escrito por Luís Moreira Gonçalves (autor e protagonista da história) e ilustrado por Felipe Parucci, lançado este mês pela Livros Zigurate.

A obra reconstitui – com intensidade e honestidade visceral – a experiência do médico português que atuou em pleno surto de COVID-19 no Hospital de Campanha da Zona Leste, em Porto Velho-Brasil, durante o pior momento da pandemia, entre Fevereiro e Abril de 2021.

A história é contada em primeira pessoa, com relatos comoventes do quotidiano médico com uma agenda sobrecarregada — “turnos em que cinco, seis, sete pessoas morreram” torna-se rotina, e a instabilidade emocional acompanha cada turno.

Felipe Parucci emprega um traço expressivo e dinâmico, que transmite o pânico, a exaustão e o caos — com rabiscos intensos, ângulos dramáticos e movimentos visuais que evocam a perda de controlo nos momentos críticos.

É uma obra essencial para registar uma experiência colectiva traumática: a pandemia vista “lá de dentro”, com impacto emocional, humano e social. O título cumpre o papel de memória e alerta — sobre negligência, morte em escala, dedicação médica e o peso psicológico dessa vivência.

Dormindo entre cadáveres, Felipe Parucci e Luís Moreira Gonçalves, Livros Zigurate, 320 pp., p&b, capa mole, 21,90€

Mattéo: Primeira Época (1914-1915)

Os dois primeiros volumes da série, publicados há quinze anos pela extinta Vitamina BD, encontram-se esgotados. Um bom motivo para que a Ala dos Livros edite o início da saga de Mattéo, ficando, assim, por publicar o segundo volume para que a colecção da editora fique completa.

Na zona de Collioure, tudo pertence aos De Brignac: as vinhas, as casas, as pessoas, o seu suor... Mattéo e o seu amigo Paulin sabem-no. Trabalham para eles.  Quanto a Juliette, a namorada de Mattéo, que a família De Brignac acolheu quando tinha apenas três anos de idade, é considerada por "eles" como um membro da família.

Agosto de 1914. A I Grande Guerra eclode. Filho de um anarquista espanhol, Mattéo escapa à mobilização geral pelo facto de ser estrangeiro.  Mas quando o seu amigo Paulin e os jovens da sua idade partem, eufóricos, para a frente de batalha, Mattéo sente-se confusamente envergonhado por ter sido deixado para trás, com as mulheres e os velhos. Paradoxalmente, e o que lhe é ainda mais insuportável, é o facto de nos encontros diários que mantém com Juliette, esta passar o tempo a falar-lhe das suas preocupações com Guillaume de Brignac, que está na Força Aérea. No momento em que, ferido pela indiferença de Juliette e atormentado pelo remorso por não estar na frente de batalha, Mattéo decide finalmente incorporar-se e partir para as trincheiras, o seu amigo Paulin regressa definitivamente a casa.

Reconhecida pela elevada qualidade gráfica e narrativa, Mattéo é uma série em 6 volumes que nos conta o destino singular de um homem. Empurrado pela força das circunstâncias, da guerra de 1914 à Segunda Guerra Mundial, passando pela Revolução Russa, a Frente Popular e a Guerra Civil Espanhola, Mattéo participará de todas as guerras que incendiaram as primeiras décadas do século XX, atravessando tempos tumultuosos e paixões exaltadas...

Mattéo: Primeira Época (1914-1915), Jean-Pierre Gibrat, Ala dos Livros, 62 pp., cor, capa dura, 24,90€

10 de setembro de 2025

Tower of God #3

Já se encontra disponível o terceiro volume da série. Eis a sinopse deste volume:

Na torre, o jogo de forças é implacável e cada decisão pode ser fatal. Quando Bam pensava que teria pela frente apenas mais um teste para subir de piso, é surpreendido por um desafio inesperado: O Jogo da Coroa, uma prova rigorosa em que as equipas se confrontam directamente. O prémio é apetecível: a equipa vencedora não precisa de realizar o último teste, passando assim para o próximo andar. A equipa de Bam tem tudo o que precisa para triunfar neste campo de forças e estratégias. No entanto, assim que uma figura familiar surge na arena, todas as certezas se desfazem… e o destino do jogo muda radicalmente.

Tower of God #3, Siu, Editorial Presença, 280 pp., p&b, capa mole, 16,90€

8 de setembro de 2025

Philippe Godin (1944 – 2025)

Foi com profunda tristeza que o mundo da BD perdeu hoje Philippe Godin, eminente estudioso da obra de Hergé e a principal autoridade sobre As Aventuras de Tintin. Nascido em Bruxelas a 27 de Maio de 1944, Godin dedicou grande parte de sua vida a desvendar a trajetória criativa do célebre autor belga e seu icónico personagem detective.

Durante a década de 1970, iniciou o seu percurso como professor de desenho, mas ficou marcado como um apaixonado coleccionador e admirador da obra de Hergé. Este intercâmbio de admiração levou-o a iniciar uma correspondência com o mestre, que respondeu com uma missiva ilustrada única e assinada — e assim nasceu uma amizade duradoura e frutífera. 

De 1989 a 1999, desempenhou o papel de secretário-geral na Fondation Hergé, onde trabalhou literalmente na mesa de trabalho de Hergé.  A partir do ano 2000, dedicou-se a publicar a colecção monumental Hergé – Chronologie d’une œuvre (sete volumes) e a biografia mais detalhada do criador de Tintin, intitulada Hergé – Lignes de vie. Estas publicações fizeram dele um dos maiores especialistas no universo do autor e seu tenaz investigador. 

A sua partida, ocorrida hoje, marca o fim de um capítulo essencial na preservação da memória e do legado de Hergé e de seu herói Tintin. Com a sua erudição e paixão constantes – tanto como hergéólogo, quanto como presidente da associação Les Amis de Hergé, editora da revista homónima com cerca de 1 400 membros em todo o mundo – dedicou uma vida inteira à difusão e ao estudo da arte e da narrativa belga.

Blue Lock - Volume 4

No volume 4 de Blue Lock, escrito por Muneyuki Kaneshiro e ilustrado por Yusuke Nomura, a tensão atinge o seu ápice. Estamos na última ronda da primeira eliminatória e a Equipa Z precisa de ganhar contra a Equipa V — a formação invicta da Ala 5 — para sobreviver! Uma ameaça tripla paira sobre Isagi, incluindo o prodígio Nagi Seishiro, que só joga futebol há seis meses. Como se não bastasse, a Equipa Z está com menos um jogador após a traição brutal de Kuon. Parece que nada ajuda, e Isagi e os companheiros de equipa estão cada vez mais conscientes das suas fraquezas.

Será que, no fim, o desespero irá triunfar sobre o talento?

Este volume cobre os capítulos 23 a 31, concluindo a primeira fase do torneio.

Blue Lock #4, Muneyuki Kaneshiro e Yusuke Nomura, Distrito Manga, 192 pp., p&b, capa mole, 10,95€

Manda msg quando chegares

Todas as histórias deste livro são verdadeiras. Aconteceram a pessoas reais, num tempo não muito distante. Pedir a uma mulher que mande mensagem quando chegar é pedir-lhe que se proteja, que esteja sempre atenta, que olhe bem à sua volta e que leve o telemóvel na mão enquanto finge que fala com alguém. É dizer que caminhe no meio da estrada e não junto aos prédios. É assegurar que estamos aqui.

Este é um grito de revolta, uma constatação, uma exposição de medos, preconceitos e avisos. Uma colectânea de episódios de todas nós e os retratos daquilo que as mulheres não podem fazer porque não fica bem, porque é provocante, porque se põem a jeito.

A luta continua.

R.G.B reuniu uma série de histórias reais de abusos e assédios e transformou-os em arte. Não para as embelezar, mas para as contar de forma a que todos ouvissem. Entre ela própria, amigas e colegas, as histórias foram tantas que não seria possível contá-las a todas.

Neste livro estão alguns desses acontecimentos, intercalados com pequenas ilustrações daqueles atos e liberdades corriqueiras que um homem não perderia um segundo a pensar nelas. Mas uma mulher pensa uma e duas vezes antes de andar de táxi à noite, sozinha; pensa se deverá comer aquele Calipo já ou esperar até chegar a casa; lamenta o autocarro cheio onde terá de aguentar um homem encostado a si; ouvirá, sem ripostar, a piadinha do médico ginecologista ou do patrão.

R.G.B. é artista visual e mãe. Este é o seu primeiro livro, que é também um protesto, um atestado de sororidade e um grito de revolta. 

Manda msg quando chegares, R.G.B., Iguana, 96 pp., capa dura, cor, 16,65€

Autora multipremiada Keum Suk Gendry-Kim de regresso com «O Meu Amigo Kim Jong-un»

O Meu Amigo Kim Jong-un é uma graphic novel escrita e ilustrada pela  autora sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim

A obra recusa a caricatura ou a demonização simplista de Kim Jong-un, procurando compreender, sem julgamentos explícitos, quem é o homem por trás do líder. A narrativa é permeada por um tom neutro e ponderado.

A autora viveu na ilha de Ganghwa, perto da fronteira entre Coreias; o barulho das bases militares e o clima de tensão criar um contexto pessoal e visceral para a investigação. Isso confere à narrativa uma forte sensação de urgência e também uma dimensão íntima, em que a autora não se distancia como mera observadora, mas como alguém afetada por esse conflito dividido.

Keum Suk Gendry-Kim deu ao livro um formato de uma reportagem em banda desenhada — uma mistura de investigação jornalística e narrativa gráfica. Gendry-Kim intercala entrevistas com desertores norte-coreanos, especialistas, amigos que conheceram Kim durante a sua estadia na Europa e até com o ex-presidente sul-coreano Moon Jae-in.

A narrativa percorre desde a infância do líder em Pyongyang até momentos mais recentes, como as negociações com Donald Trump. Intercalada com a própria experiência da autora e a pesquisa em curso, a história tem um carácter reflexivo e humano, não limitado ao estritamente biográfico estrito.

A arte varia entre traços realistas e caricaturas subtis. O uso de duas cores no grafismo traz dinamismo e carrega uma carga simbólica forte, refletindo tensões, silêncios e emoções não expressas explicitamente.

O Meu Amigo Kim Jong-un é uma obra singular no panorama das narrativas sobre a Coreia do Norte. Não é biografia pura, nem sátira política; é jornalismo gráfico com alma — uma narrativa sensível que constrói pontes, humaniza figuras frequentemente envoltas em mistério, e convida à reflexão sobre os efeitos duradouros da divisão. É uma leitura recomendada para quem busca compreender realidades complexas com empatia, rigores jornalísticos e beleza visual.

O álbum tem a chancela da Iguana e é terceira obra de Gendry-Kim editada em Portugal.

O Meu Amigo Kim Jong-un, Keum Suk Gendry-Kim, Iguana, 288 pp., bicromia, capa mole

The Ghost in the Shell - Livro 1

Publicado originalmente em 1989 por Masamune Shirow, The Ghost in the Shell é um marco na história do mangá e da ficção científica. Reunindo tecnologia, filosofia e acção num enredo futurista, a obra tornou-se um dos pilares do género cyberpunk, inspirando adaptações para o cinema, animação, videogames e influenciando obras ocidentais como Matrix.

O enredo decorre no século XXI, num Japão altamente tecnológico, onde a fronteira entre o homem e a máquina se tornou difusa. A protagonista é a Major Motoko Kusanagi, integrante da Secção 9, uma unidade de segurança governamental especializada em crimes cibernéticos e terrorismo tecnológico.

No decorrer da obra, Kusanagi e a sua equipa investigam casos de hackers e conspirações, culminando no confronto com o misterioso Mestre das Marionetes, uma inteligência artificial capaz de manipular redes e consciências humanas.

Os cenários são marcados por cidades densas, repletas de neon e tecnologia omnipresente, mas também por uma sensação de desumanização e de perda de identidade, temas clássicos do cyberpunk.

Shirow combina narrativa densa, com diálogos técnicos e filosóficos, a cenas de acção dinâmicas e violentas. O traço detalhado mistura estética realista com elementos futuristas, consolidando o estilo cyberpunk japonês. Além da arte, o autor insere notas explicativas que expandem a compreensão do mundo — desde detalhes sobre armamentos até reflexões políticas e sociais.

The Ghost in the Shell abriu caminho para um dos franchisings mais influentes da cultura pop. A adaptação em anime de 1995, dirigida por Mamoru Oshii, tornou-se referência no cinema de ficção científica. Desde então, a obra gerou sequências em mangá, séries animadas (Stand Alone Complex), filmes live-action e discussões académicas sobre tecnologia e filosofia.

Mais do que uma história policial futurista, o livro é uma reflexão sobre o que significa ser humano numa era de máquinas conscientes.

The Ghost in the Shell - Livro 1, Masamune Shirow, Distrito Manga, 360 pp., cor, capa dura, 35,45€

3 de setembro de 2025

Pedro Massano: Um Mestre da Banda Desenhada Portuguesa (1948-2025)

Manuel Pedro Dias Massano Santos, mais conhecido como Pedro Massano, nasceu em Lisboa a 15 de Agosto de 1948, tendo passado parte da juventude nos Açores (São Miguel) antes de ingressar na capital, onde frequentou o Colégio Militar. Cresceu rodeado pela banda desenhada — um ciclo que começou cedo, roubando revistas como Cavaleiro Andante, e que consolidou a sua paixão por esta forma de arte.

Na década de 1970 estudou Arquitetura na ESBAL (Escola Superior de Belas Artes de Lisboa), enquanto colaborava com diversos jornais e revistas como Musicalíssimo, Volante, República, entre outros.

A sua primeira banda desenhada publicada foi BZZZ, para o suplemento Mosca do Diário de Lisboa, em 1972, assinando então como Mané (utilizou também variantes como Pedro ou Manuel Pedro).

O seu envolvimento mais marcante deu-se com a revista Visão (1975-1976), uma publicação revolucionária inteiramente dedicada à BD que, embora breve, marcou uma clara ruptura no panorama de leitores e autores portugueses.

Um dos pontos altos da sua carreira foi A Primeira Aventura no País de João (1977), com argumento de Maria Alberta Menéres, editado com uma tiragem surpreendente de 500 000 exemplares para distribuição junto de comunidades de emigrantes.

Em 1978, começou a publicar O Abutre, tiras com humor negro e uma veia iconoclasta no jornal A Luta, compiladas posteriormente em sete mini-álbuns pela Europress.

Criou ainda títulos como A missão h…orrível e A Lei do Trabuco e do Punhal – Mataram-no Duas Vezes, ficção baseada na biografia de Zé do Telhado.

Pedro Massano destacou-se também pelas BD de temática histórica com rigor, como A Conquista de Lisboa (2 volumes) ou A Batalha – 14 de Agosto de 1385. Um álbum dedicado à batalha de Aljubarrota, com 86 pranchas elaboradas ao pormenor com base em crónicas históricas, foi visto como um trabalho “monumental”, resultando de quatro anos de trabalho e elogiado pela qualidade gráfica e reconstituição histórica.

Além disso, colaborou com o autor francês Patrick Lizé no álbum Le Deuil Impossible, da Glénat, que retrata curiosamente um possível regresso do rei D. Sebastião em 1598.

Editou ainda o livro teórico Como Fazer Banda Desenhada e até se aventurou em cromos com As Aventuras do Capitão Igloo. Na imprensa, dirigiu o semanário Eco Regional e criou personagens como Dick Tetiv (tiras para o site do Ministério da Administração Interna em 1998) e continuou a desenvolver séries como Contacto em Lisboa e Os Passarinhos.

Pedro Massano faleceu a 1 de Setembro de 2025, com 77 anos, deixando um legado vasto e diversificado no campo da banda desenhada portuguesa.

Ensaio de quadriculografia portuguesa de Pedro Massano 

2 de setembro de 2025

RedFlower #2: O leão orgulhoso da sua crina

O segundo volume foi lançado em França (Glénat Manga): em 22 de Janeiro de 2025. Agora está disponível em Portugal.

O volume 2 retoma com a chegada de uma estrangeira misteriosa, chamada Heidi, ao vilarejo dos Bao’ré. A sua presença gera debates acalorados: alguns defendem expulsá-la, enquanto os Katafali (o conselho pacifista) impõem que se socorra os feridos.

Privado de artes marciais, Kéli tenta ensinar a Heidi sua cultura e tratá-la, mas a barreira do idioma não é tão fácil de superar... Quando os batedores do Rei descobrem os vestígios de outros náufragos na selva, as tensões aumentam na aldeia, Anansi semeia a discórdia e Yao parece estranhamente possuído... À medida que a guerra ameaça rebentar, será que o jovem Kéli encontrará a chave da comunicação a tempo de evitar que os dois povos se matem?

RedFlower #2: O leão orgulhoso da sua crina, Loui, ASA, 240 pp., p&b, capa mole, 9,90€

O Verão em que Hikaru Morreu – Volume 2

Neste volume, Yoshiki lida com uma verdade perturbadora: o verdadeiro Hikaru faleceu, e o ser que agora ocupa o seu lugar, apesar de ter a sua aparência e memórias, não é realmente ele. Ao mesmo tempo, a vila em que eles vivem começa a manifestar comportamentos estranhos. No desfecho do livro, há um capítulo inédito que oferece uma visão privilegiada do modo de pensar do “Hikaru” substituto.

O Verão em que Hikaru Morreu – Volume 2, Mokumokuren, Editorial Presença, 192 pp., p&b, capa mole, 11,90€

1 de setembro de 2025

As minhas leituras de BD no mês de Agosto de 2025



Efemérides da BD no mês de Setembro


01 
– Nascimento de José Ortiz [1932-2013]; Estreia de Darevil [1940], Tom e Jerry [1942], Estreia de Tex Willer [1948], Matt Marriott [1955], X-Men [1963], Os Vingadores [1963], San-António [1963-1975], Vampirella [1969-1988], Taar [1976-1988], Anselmo Curioso [1980], Alef-Thau [1982], Vic Valence [1985], Druuna [1985], Watchmen [1986-1987], Lanfeust de Troy [1994-2000], Rapaces [1998-2003], Bird [2001] e Airborne 44 [2009]

03 - Nascimento de Mort Walker [1923-2018]
04 – Nascimento de Lucien De Gieter [1932], Jean Torton [1942] e Denis Sire [1053-2019]; Estreia de Beetle Bailey [1950]
05 – Nascimento de Robert Bressy [1924-2015], Cathy Guisewhite [1950] e Stédo [1978]; Estreia de Buck Gallo [1963]
06 - Nascimento de José Cabrero Arnal [1909-1982] e Sergio Aragonés [1937]; Estreia de Tumbleweeds [1965] e Aqui há gato (Get Fuzzy) [1999]
07 - Nascimento de José Manuel Soares [1932-2017]; Estreia de Bat Masterson [1959-1960]
08 – Nascimento de Elzie Crisler Segar [1894-1938], Austin Briggs [1908-1973], Jayme Cortez [1926-1987], William Vance [1935-2018], Archie Goodwin [1937-1998] e Catherine Labey [1965]; Estreia de Blondie [1930]
09 - Nascimento de Frank Robbins [1917-1994], Claudio Nizzi [1938], Vicente Segrelles [1940] e José Abrantes [1960]
10 – Nascimento de Stephen Desberg [1954]; Estreia de Capitan [1963-1971]
11 – Nascimento de Jean-Claude Forest [1930-1998], Sérgio Toppi [1932-2012] e Alessandro Chiarolla [1942]; Estreia de Lone Ranger [1938], Redeye [1967], Jess Long [1969] e Gora Gopal [1975]
12 - Nascimento de Milo Manara [1945]
13 - Nascimento de Didier Savard [1950]
14 – Nascimento de Lucien Nortier [1922-1994] e Mike Grell [1947]; Estreia de Cúpido [1988]
15 - Nascimento de Michel Duveaux [1951]
16 – Nascimento de Mike Mignola [1962], Kurt Busiek [1960] e Philippe Gauckler [1961]; Estreia de Donald Duck na BD [1934] e Alix [1948]
17 – Nascimento de Carlos Sampayo [1943] e Dominique Rousseau [1954]
18 – Nascimento de Carlos Botelho [1899-1982], Joe Kubert [1926-2012] e Archie Goodwin [1937-1998]; Estreia de O Império Trigano [1965]
19 – Nascimento de Étienne Willem [1972-2024]; Estreia de Cori [1951-1993] e Matt Marriott [1955-1977]
20 – Nascimento de Fernando Relvas [1954-2017]; Estreia de Winnie Winkle [1920], O Santo [1948-1962], Gil Jourdan [1956-1989] e Moose [1965]
21 – Nascimento de François Corttegiani [1953-2022] e David Mazzuchelli [1960]; Estreia de Moustache et Trottinetti [1952]; 1º número do Tabloide, suplemento do Diário Popular [1965]
22 – Nascimento de Max Cabanes [1947], Philippe Berthet [1956] e Jean-Claude Servais [1956]; Estreia de Alphonse and Gaston [1901] e Flama de Prata [1960-1963]
23 – Nascimento de Stan Lynde [1931-2013], Jean-Claude Mézières [1938-2022], Jean-Luc Vernal [1944-2017], Paul Ryan [1949-2016], Jean-Claude Floch [1953], Eduardo Risso [1959] e Frank Le Gall [1959]; Estreia de Archie Cash [1971]
24 – Nascimento de Jock [1972]; Estreia de Yoko Tsuno [1970]
25 – Nascimento de Jacques Martin [1921-2010], Antonio Sciotti [1924-1974], Massimo Mattioli [1943-2019], Bob Layton [1953] e Jean-Claude Floc'h [1953]; Estreia de Dan Dun [1933- 1943] e Le Petit Nicolas [1955]
26 – Nascimento de Winson McCay [1867-1934], Sirius [1911-1997], Jean-Marie Pélaprat [1927-1995], Raoul Cauvin [1938] e Michel Schetter [1948-2025]; Estreia de Blake e Mortimer [1946], Corentin [1946], Mafalda [1964] e Os Krostons [1968]; 1º número da revista belga Tintin [1946-1988]
27 - Nascimento de Fernando Tito [1943]; Estreia de O Santo [1948-1961]
28 - Nascimento de Al Capp [1909-1979], Robert Hughes [1931] e Christian Denayer [1945]; Estreia na BD de Buffalo Bill [1960]
29 – Nascimento de Sirius [1911-1997], Russ Heath [1926-2018], Tronchet [1958] e Emmanuel Lepage [1966]; Estreia de Mafalda [1964-1973], Archie Cash [1971] e O Detective de Hollywood [1983]
30 – Nascimento de Vittorio Coliva [1937-2018], Altan [1942], Philippe Sternis [1950] e Stanislas [1961]

29 de agosto de 2025

Mais de 60 livros de BD e ilustração vão ter edição estrangeira com apoio público

Mais de 60 obras de ilustração e banda desenhada de autores portugueses vão ser traduzidas e editadas em 24 países, através de uma linha de apoio financeiro da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB).

Na sua página oficial, a DGLAB indica que a Linha de Apoio à Ilustração e BD (LAIBD) irá abranger este ano 44 editoras estrangeiras e 61 livros de ilustradores portugueses, com um investimento global de cerca de 88 mil euros.

Entre os nomes de ilustradores mais representados estão Catarina Sobral, André Letria e André Carrilho, mas também são contempladas obras de António Jorge Gonçalves, Joana Estrela, João Vaz de Carvalho, Madalena Matoso e Mariana Rio, entre outros.

Os livros a serem apoiados têm também a assinatura de autores como Adélia Carvalho, Inês Fonseca Santos, Isabel Minhós Martins, José Jorge Letria, Ricardo Henriques ou Tatiana Salem Levy.

Entre as obras a editar, incluem-se o premiado “Balada para Sophie”, de Filipe Melo e Juan Cavia, na Bélgica, “Capital”, de Afonso Cruz, “A menina com os olhos ocupados”, de André Letria, na Dinamarca, em Espanha e na Macedónia do Norte, “Pardalita”, de Joana Estrela, em França, “A Guerra”, de José Jorge Letria e André Letria, na Arménia, “Dita Dor”, de António Jorge Gonçalves, na Argentina e na Coreia do Sul.

Brasil é o país com maior número de contemplados – oito -, nomeadamente, “Isto não é”, de Marco Taylor, “Como criar uma biblioteca”, de Inês Fonseca Santos e André Letria, “Virar o medo ao contrário, como a Paula Rego”, de Catarina Sobral, ou “O tempo do cão”, de Ondjaki e António Jorge Gonçalves.

Segue-se Espanha, com sete obras ilustradas a serem apoiadas, entre as quais “People are weird”, de Victor D. O. Santos e Catarina Sobral, “Foxy & Meg encontram um Mas-mas”, de Ricardo Henriques e André Letria, ou “A menina com os olhos ocupados”.

Criada em 2005, a LAIBD tem por principais objetivos divulgar no estrangeiro a produção portuguesa nas áreas da ilustração e banda desenhada, contribuir para a angariação de novos públicos e de novos mercados para autores e editores, e estimular a criação e valorizar o trabalho dos autores.

in LUSA

Colecção 25 Imagens

 


Levoir
Julho/Agosto 2025

  1. A Floresta, Thomas Ott
  2. Marguerite, Joe Pinelli
  3. Ter 20 anos em Maio de 1871, Jacques Tardi
  4. Rumo ao Sul, Landis Blair
  5. A Restauração, Nina Bunjevac
  6. Nachave, Lucas Harari
  7. O cabo de 2.102.400 km, Vasco Colombo

Colecção 25 Imagens #7: O Cabo de 2.102.400 km, de Vasco Colombo

Na última edição da colecção 25 Imagens, lançada pela Levoir em colaboração com o jornal Público, surge uma obra que encerra esta série com uma força visual singular. O Cabo de 2.102.400 km, de Vasco Colombo, não é apenas uma novela gráfica — é uma leitura silenciosa, que fala através de imagens, sem uma única palavra.

Vasco Colombo, natural de Lisboa, é um ilustrador e artista visual que se notabilizou nas áreas do design editorial e da banda desenhada. Após um período dedicado a projectos gráficos, retoma simbolicamente ao universo da banda desenhada com esta obra.

A narrativa visual acompanha um homem que encontra um cabo escondido e decide segui-lo até ao seu fim — uma viagem literal, mas também profundamente metafórica. Trata-se de um percurso que desvela os vínculos humanos com o planeta, a nossa relação com a Terra e a existência.

O título, 2.102.400 km, contém uma lógica matemática oculta, sugerindo múltiplas interpretações que só se revelam ao leitor que “puxa o fio à meada”.

O ponto mais fascinante da obra é o seu total silêncio textual. Constituída por apenas 25 imagens, esta narrativa desafia a linguagem convencional e convida o leitor a decifrar sentidos, emoções e conexões apenas pelo poder do visual. Este método minimalista é fiel ao conceito da colecção 25 Imagens — cada fotografia, ilustração ou página fala por si, evocando interpretações múltiplas.

Colecção 25 Imagens #7: O Cabo de 2.102.400 km, Vasco Colombo, Levoir, 32 pp., p&b, capa dura, 15,90€

28 de agosto de 2025

Batman de Grant Morrison – Volume Dois

O segundo volume da celebrada saga de Grant Morrison continua a desbravar os territórios sombrios e inovadores do universo Batman. É editado em Portugal pela Devir, com 176 páginas, reunindo arcos como Three Ghosts of Batman e prelúdios para The Resurrection of Ra’s al Ghul

Colecta as edições das revistas BATMAN #664, #665 e #667 a #671, com a participação de artistas como Andy Kubert, J.H. Williams II e Tony S. Daniel reconhecidos pela sua criatividade na caracterização gráfica do Cavaleiro das Trevas

Este volume marca a transição de legado e identidade:

Após Final Crisis e Batman R.I.P., Bruce Wayne desaparece; Dick Grayson assume a capa enquanto Damian Wayne torna-se o novo Robin, trazendo tensão familiar e novíssimo dinamismo à vigilância urbana.

Em Three Ghosts of Batman, o herói é desafiado por refletores distorcidos do seu próprio ser — um thriller psicológico que joga com percepções de identidade.

A iminente ressurreição de Ra’s al Ghul inaugura uma nova era de caos e renovação para Gotham, ampliando a mitologia já consolidada da série.

Batman de Grant Morrison – Volume Dois é uma viragem emocionante na mitologia de Batman: suspense psicológico, reconfiguração dos mantos de heróis e ameaças renascentes. Entre fantasmas, ligações familiares e caos iminente, este volume promete redefinir Gotham de forma audaciosa e inesquecível.

Batman de Grant Morrison – Volume Dois, Colectivo, Devir, 176 pp., cor, capa dura, 20€

Crianças do mar #3

Crianças do Mar (Children of the Sea), de Daisuke Igarashi, é uma série que reflecte a profundidade mística e a ligação oceânica.

Neste volume, Ruka presencia o desaparecimento de Sora nas águas escuras — um acontecimento que a traumatiza profundamente. No entanto, algo mais persiste: o meteorito que Sora fez engolir não está em silêncio — sussurra dentro dela e a leva, junto a Umi e Anglade, a aventurar-se nas profundezas do oceano.

O terceiro volume de Crianças do Mar é um mergulho profundo numa narrativa que une ecologia, mito e a busca existencial. À medida que Ruka segue os sussurros do meteorito que carrega, o leitor é levado a desvendar memórias antigas e os laços que conectam os seus misteriosos amigos. A arte sublime de Igarashi e a sua ambição poética fazem deste volume uma experiência sensorial e filosófica memorável — especialmente para quem busca mangás que convidam à contemplação e à reflexão.

Crianças do mar #3, Daisuke Igarashi, Devir, 338 pp., p&b, capa mole, 20€

Boa noite, Punpun #4

O volume 4 de Boa Noite, Punpun marca um ponto de inflexão: a transição de criança para jovem adulto traz a solitude plena, a rotina fria e a chegada de Sachi, cujo aparecimento disruptivo muda o rumo de sua rotina. A obra respira candura, caos e a fragilidade humana.

Neste volume, Punpun passa a viver por conta própria, tentando escapar dos traumas familiares — o seu pai está ausente e a sua mãe morreu.

Punpun está em baixa total: trabalha em empregos precários, passa grande parte do tempo prostrado em seu quarto e parece incapaz de se reerguer emocionalmente. Contudo, o encontro com Sachi instiga um deslocamento abrupto na narrativa, introduzindo esperança, curiosidade e perturbadoras dinâmicas afectivas.

Boa noite, Punpun #4, Inio Asano, Devir, 448 pp., p&b, capa mole, 20€

27 de agosto de 2025

ASTÉRIX, OBÉLIX E IDEIAFIX CHEGAM À LUSITÂNIA EM 23/10/2025!

 


Oshi No Ko #4

O quarto tomo da série foi editado originalmente no Japão em Maio de 2021. Neste volume, os gémeos Aqua e Ruby começam a consolidar suas carreiras no showbiz.

Aqua participa num programa de reality show romântico, formando par com Akane Kurokawa.

Ruby prepara-se para a estreia do grupo B-Komachi, agora formado por ela, Aqua e a YouTuber Mem-cho, no prestigiado Japan Idol Fest.

Este volume encerra o arco do primeiro concerto, alinhando-se com o final da 1.ª temporada do anime — ideal para os leitores que queiram recuperar o ponto da história.

Oshi No Ko #4, Aka Akasaka e Mengo Yokoyari, Devir, 192 pp., p&b, capa mole, 9,99€€

26 de agosto de 2025

Jujutsu Kaisen #16: Incidente em Shibuya – Fechai o Portão

Este volume conclui o tenso e explosivo arco do Incidente de Shibuya, marcando um ponto de viragem decisivo na série.

Após consumir a alma de Mahito, Geto revela um plano maléfico aos protagonistas, despertando o ódio de Choso, que reconhece uma presença sinistra no corpo do seu aliado. A identidade desse feiticeiro maléfico, e a sua ligação com Choso, são reveladas — pondo tudo em causa.

Com Gojo preso, o suporte da sociedade dos feiticeiros cai por terra. O mundo mergulha no caos e na desordem, enquanto ninguém sabe se resistirá a esse colapso.

Jujutsu Kaisen #16: Incidente em Shibuya – Fechai o Portão, Gege Akutami, Devir, 192 pp., p&b, capa mole, 9,99€

Peças — Um Jogo de Vida, Amor e Cor

Peças, de Victor L. Pinel, publicado este mês pela Ala dos Livros, é uma novela gráfica que mistura drama, romance e reflexão existencial num retrato vívido das relações humanas. Com 176 páginas, capa dura e um visual cuidado, o livro apresenta uma história envolvente onde os protagonistas se entrecruzam como peças num tabuleiro de xadrez.

A narrativa começa com um encontro fugaz: ao entrarem num eléctrico, um jovem olha para uma mulher que se tornará inolvidável — uma paixão instantânea e evasiva. A história desenrola-se mostrando personagens cujas relações pessoais se encontram em crise: todos são como peças no xadrez da vida, cada um com seus movimentos e dilemas.

Os peões ponderam sacrificar algo importante para seguirem em frente;

Os bispos se cruzam sem conexão real;

O cavalo, embora livre para saltar por cima de obstáculos, permanece vulnerável, pois até ele pode ser derrubado por um simples peão,

Essa metáfora xadrezística serve para explorar temas como destino, fragilidade, desejo, isolamento e a busca humana por conexão — numa história que nos convida a refletir sobre como nos movimentamos nas complexas redes da vida.

Peças, Victor L. Pínel, Alas dos Livros, 176 pp., cor, capa dura, 27,50€

SpyxFamily #15

O presente volume traz-nos uma poderosa história paralela que ilumina o passado dos personagens Henry Henderson e Martha.

Devido à guerra entre Leste e Oeste, Henry e Martha separam-se sem nunca terem declarado os seus sentimentos. Martha alista-se no conflito e sobrevive por pouco a uma batalha sangrenta em Westalis. Agora, determinada, a sua única missão é retornar a Ostania — e, esperançosa, reencontrar Henry.

Este arco reforça o equilíbrio emocional da série, alternando o drama intenso e momentos de luz com a família Forger, e aprofunda personagens secundários muitas vezes negligenciados

Na capa, vemos Martha Marriott sentada numa cadeira de pavão, junto de uma mesinha com uma carta e uma xícara de chá — símbolos que remetem ao seu passado e caráter refinado. Os seus pés, na pose típica de bailarina, revelam indícios da sua formação e dos seus sonhos interrompidos.

SpyXFamily #15, Tatsuya Endo, Devir, 212 pp., p&b, capa mole, 9,99€  

25 de agosto de 2025

Ataque dos Titãs #8

O presente volume inicia logo após o fracasso da expedição além das muralhas, com a Titã Fêmea solta novamente, e a equipa de Eren gravemente abalada. Ele é chamado à corte real, enquanto Mikasa e Armin enfrentam dilemas sobre lealdade e amizade.

A narrativa culmina em grandes revelações: a identidade da Titã Fêmea é finalmente desvendada, e um segredo perturbador sobre a própria estrutura das muralhas de protecção da humanidade vem à tona — colocando em xeque tudo que era tido como certo.

Neste volume, Isayama eleva a série do mero survival horror a um enredo com profundidade política, mistério e moralidade ambígua. A transição narrativa é clara: a história, que até então girava em torno da sobrevivência, agora ganha camadas de conspiração institucional e reviravoltas sombrias.

Ataque dos Titãs #8, Hajime Isayama, Distrito Manga, 178 pp., p&b, capa mole,10,95€

Caderno Azul, de André Juillard

Se há obras que mudam a forma como olhamos para a banda desenhada, Caderno Azul (Le Cahier Bleu, no original francês) é uma delas. Publicada em 1994 na prestigiada colecção Aire Libre, da editora Dargaud, este álbum tornou-se um clássico imediato e deu a André Juillard o prémio Alph-Art de Melhor Álbum em Angoulême (1995).

O enredo começa de forma quase banal: Arno, um jovem pianista, observa pela janela a sua vizinha, Louise. Fascinado por ela, passa a anotar no seu caderno azul tudo o que sente, pensa e imagina.

O que poderia ser apenas um diário romântico transforma-se numa narrativa ambígua, em que realidade e desejo se confundem. O leitor nunca tem a certeza do que aconteceu de facto e do que pertence apenas ao mundo íntimo de Arno.

É precisamente aí que Juillard nos prende: na fronteira entre o visto e o imaginado.

Juillard já era conhecido como mestre do desenho realista, mas em Caderno Azul atinge uma subtileza rara, apresentando xxpressões delicadas revelam emoções que muitas vezes as palavras não dizem, conjugando com cores suaves e composições limpas criam um ambiente intimista. Juillard torna o leitor sente-se cúmplice, quase voyeur, como se também estivesse a espreitar pela janela.

O Caderno Azul é complementado com Depois da Chuva, outra história inesperada e envolvente de amor e mistério, que absorve o leitor até às páginas finais do livro.

Caderno Azul, André Juillard, Devir, 144 pp., cor, capa dura, 22€

22 de agosto de 2025

“O Verão em que Hikaru morreu” – Quando a amizade encontra o sobrenatural

Imagine um verão comum numa vila rural japonesa, dois amigos inseparáveis, e um segredo perturbador: Hikaru saiu para uma caminhada nas montanhas… e voltou diferente. Ele parece o mesmo — rosto, voz, memórias —, mas não é mais o Hikaru verdadeiro. Yoshiki, o seu melhor amigo, tem apenas uma escolha: enfrentar a entida­de que assumiu o lugar de Hikaru e lidar com uma amizade marcada pela incerteza e pelo medo.

A obra do japonês Mokumokuren (O nome significa "olhos múltiplos" ou "olhos contínuos". Os Mokumokuren são descritos como inúmeros olhos que aparecem em buracos em shōji danificados, ou até em paredes) traz-nos um suspense emocional, em que o terror não vem de sustos, mas da sensação perturbadora de que alguém amado mudou — e pode não ser humano.

O anime estreou em Julho de 2025, animada pelo estúdio CygamesPictures e está disponível na Netflix.

O Verão em que Hikaru morreu, Mokumokuren, Editorial Presença, 184 pp., p&b, capa mole, 11,90€

17 de agosto de 2025

Coleção 25 Imagens #6: Nachave, de Lucas Harari

Editada em Outubro de 2022 pelas Éditions Martin de Halleux, Nachave integra a colecção 25 Imagens da Levoir e do jornal Público.  Tratam-se de narrativas curtas, em preto e branco, sem texto e com apenas 25 ilustrações — o clássico “romance sem palavras” moderno.

Lucas Harari, nascido em Paris em 1990, estudou arquitectura antes de se formar em imagem impressa na Arts Décoratifs de Paris em 2015. Iniciou a carreira com fanzines e estreou-se no universo das bandas desenhadas com L’Aimant (2017), seguindo-se La Dernière rose de l’été (2020) e, mais recentemente, Le cas David Zimmerman (2024).

O termo Nachave vem do romani manouche e significa, em argot, “vai-te embora, foge, parte” — uma conjunção de ordem, ansiedade e urgência que antecipa o clima da história.

Em apenas 25 pranchas, Harari usa a linguagem da imagem para relatar uma jornada trágica: um adolescente marginalizado na periferia, confrontado com o abandono e a invisibilidade, tenta escapar de um destino que lhe chega cedo demais. A ausência de texto convida o leitor a mergulhar nas emoções e atmosferas visuais — com luzes cruas e sombras densas — e a construir o significado cena a cena.

O traço de Harari, limpo e expressivo, acentua o contraste entre obliquidade e profundidade. As composições remetem-nos aos cenários que marcaram a sua infância em zonas urbanas periféricas e ecoam um estilo noir urbano cheio de tensão visual.

Coleção 25 Imagens #6: Nachave, Lucas Harari, Levoir, 30 pp., p&b, capa dura, 13,90€