4 de novembro de 2025

Adèle Blanc-Sec #10 – O Bebé das Buttes-Chaumont

Com O Bebé das Buttes-Chaumont, publicado em 2022 pela Casterman, Jacques Tardi encerra oficialmente a saga de Adèle Blanc-Sec, uma das séries mais emblemáticas da banda desenhada francófona. O autor declarou que este seria o último álbum — “dez volumes e não mais” —, marcando o fim de uma das personagens femininas mais singulares e independentes do género.

A acção decorre em Paris nos anos 1920, num cenário onde o fantástico e o absurdo se misturam com crítica social e política. Uma estranha epidemia transforma pessoas em vacas após consumirem determinados produtos farmacêuticos e bebidas “milagrosas” criadas pelo sinistro doutor Chou. Paralelamente, surgem clones de Adèle, usados como instrumentos explosivos em jogos de poder e manipulação — um enredo que combina sátira, humor negro e ironia à maneira de Tardi.

Visualmente, o álbum mantém o traço detalhado e expressivo do autor, recriando um Paris entre guerras povoado por figuras grotescas, cientistas loucos e políticos sem escrúpulos. Tardi continua a explorar temas como a ciência descontrolada, o fanatismo ideológico e a condição feminina, sempre com uma mordacidade irresistível.

Embora a crítica tenha recebido o livro com opiniões diversas — alguns elogiaram o regresso de Adèle e o tom subversivo, enquanto outros apontaram um certo desequilíbrio narrativo —, O Bebé das Buttes-Chaumont é um encerramento digno e coerente de uma série que marcou gerações de leitores.

Tardi despede-se de Adèle Blanc-Sec sem concessões, fiel ao seu espírito rebelde e inconformista. Uma conclusão que é, ao mesmo tempo, uma homenagem à personagem e ao próprio imaginário da banda desenhada europeia.

Adèle Blanc-Sec #10 – O Bebé das Buttes-Chaumont, Jacques Tardi, Levoir, 72 pp., cor, capa dura, 23,90€







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