A história decorre no Dakota Territory, em plena década de 1880, num período de fronteira frágil, onde a lei é instável e a sobrevivência depende mais da astúcia do que da moral. O enredo segue figuras que se movem entre a solidão, o crime e a desconfiança — personagens que raramente são inteiramente boas ou más, mas que carregam a ambiguidade típica de um mundo ainda em formação. Apollo, com o seu estilo conciso, estabelece tensões subtis e deixa espaço para que o leitor respire, observe e preencha os silêncios.
O desenho de Brüno, característico pelo uso de formas simples, composições geométricas e contrastes fortes, imprime à obra uma estética quase cinematográfica. O seu traço depurado, próximo de um noir despojado, reforça a aridez dos ambientes e a crueldade crua de uma época em que cada gesto podia significar vida ou morte. A economia de linhas e a ausência de excessos visuais criam uma atmosfera que lembra tanto o western crepuscular como a banda desenhada de género mais contemporânea.
Apesar da ambientação histórica, Dakota 1880 não é um exercício nostálgico. Pelo contrário, trata-se de um western desromantizado, que olha para a fronteira como um espaço de conflito, cobiça e reconstrução permanente. A narrativa convida a reflectir sobre temas como a ocupação territorial, a violência estrutural e a formação de identidades num cenário onde quase tudo se encontra em disputa.
Como habitualmente, a edição de A Seita apresenta duas capas, sendo uma exclusiva para os clientes da Wook.
Uma homenagem a Lucky Luke criado por Morris: Dakota 1880, Apollo e Brüno, A Seita, 64 pp., cor, capa dura, 19€



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