30 de novembro de 2025

Frank Pé – uma vida dedicada à banda-desenhada e à natureza [1956-2025]

Frank Pé nasceu a 15 de Julho de 1956 em Ixelles, nos arredores de Bruxelas, Bélgica. 

Estudou escultura na prestigiada Institut Saint-Luc, em Bruxelas — uma escola que formou muitos nomes marcantes da banda desenhada franco-belga.  

Desde muito cedo se revelou fascinado pelo desenho e pela natureza, uma paixão que acompanhou toda a sua carreira: já na infância desenhava animais e mais tarde — apesar de ter mantido durante algum tempo vários répteis exóticos — abandonou a ideia de os “coleccionar”, mantendo apenas dois iguanas. 

A sua aventura profissional começa em 1973, quando passa a colaborar com a revista Spirou, ainda como jovem autor. Entre os projectos iniciais, destaca-se a criação de histórias curtas onde já ficava evidente o seu gosto por ambientes naturais e animais. 

Em 1984 dá-se o passo decisivo: publica o seu primeiro álbum longo, dando corpo à série Broussaille — fruto da colaboração com o argumentista Bom (Michel de Bom). A série apresenta as observações de natureza e reflexões pessoais através do alter-ego Broussaille, alterando o paradigma da BD de aventura para uma BD mais introspectiva e ecológica. 

Com Broussaille, Frank Pé ganha visibilidade: a sua linguagem transmite sensibilidade e um profundo respeito pela natureza — traços que se tornariam marcas distintas do seu estilo.  


Nos anos seguintes, Frank Pé consolida a sua reputação com várias obras de grande relevo:

A série Zoo (1994–2007), com argumento de Philippe Bonifay, composta por três álbuns, reconverte-o para uma narrativa mais adulta e realista — mantendo sempre o seu domínio no desenho e na cor.

A colaboração com o argumentista Zidrou em títulos recentes, como A Fera — reinterpretando um mítico animal da BD franco-belga com uma abordagem mais madura, tendo sido publicado em Portugal pela editora A Seita

Além da BD, Frank Pé também se envolveu em ilustração, estudos de animação, e em projectos artísticos

ligados à natureza — demonstrando sempre um interesse profundo no mundo dos animais e no meio natural. 

O trabalho de Frank Pé distingue-se pela harmonia entre desenho realista e sensível, pelo uso da cor, e pela temática frequentemente centrada na natureza e nos animais — um traço pouco comum nas BD tradicionais de aventura. 

As suas referências estéticas passavam por autores como André Franquin e Moebius, mas também por movimentos artísticos como o Art Nouveau, e artistas plásticos ou ilustradores da natureza — o que lhe permitia fundir banda desenhada e sensibilidade artística de forma singular. 

Frank Pé faleceu a 29 de Novembro de 2025, aos 69 anos. 

A sua morte marca o fim de uma das vozes mais poéticas e originais da BD franco-belga contemporânea — um autor capaz de unir a magia do traço com a serenidade da Natureza e a reflexão sensível sobre o nosso mundo.

Frank Pé deixa um legado único: um estilo gráfico inconfundível, uma sensibilidade pela natureza e pelos animais, e uma capacidade de contar histórias que escapam ao convencional da BD de aventuras. Com Broussaille, Zoo ou A Fera, provou que a banda desenhada pode ser introspectiva, poética e visualmente impressionante — algo que inspira novos autores.



Entradas na minha biblioteca de BD no mês de Novembro de 2025

 











As minhas leituras de BD no mês de Novembro de 2025

 






29 de novembro de 2025

Kenshin, o Samurai Errante #25: A Verdade

O volume 25, intitulado A Verdade (The Truth / Shinjitsu), marca um momento turbulento e decisivo na vida dos personagens. Neste volume, Kujiranami Hyōgo — o gigante cuja mão direita fora cortada por Himura Kenshin durante o Bakumatsu — foge da prisão e lança-se num frenético ataque a Tóquio, espalhando o caos.

Com a polícia incapaz de o conter, surge um desafio inesperado: Myōjin Yahiko — jovem discípulo da escola Kamiya Kasshin-ryū e pupilo de Kenshin — ergue-se como a última linha de defesa. Apesar de ter evoluído nas suas habilidades, Yahiko acaba por enfrentar ferimentos graves na batalha contra Kujiranami.

Entretanto, Kenshin encontra-se numa profunda crise interior, incapaz de reagir à situação — adormeceu emocionalmente, longe de qualquer vontade de lutar. É apenas após o apelo desesperado de Tsubame, e graças à intervenção de um estranho — conhecido como Geezer, que se revela ser o pai da falecida mulher de Kenshin —, que este recupera o sentido da sua missão. Através dessa figura, Kenshin confronta o seu passado e a sua culpa, percebendo que, apesar dos erros, ninguém que peça ajuda deve ser deixado sozinho.

Revigorado pela reflexão, Kenshin intervém finalmente para enfrentar Kujiranami. A batalha não é apenas física mas simbólica: representa a redenção de Kenshin — não pelo passado de violência, mas pelo presente de honra e protecção dos inocentes. No fim, consegue acalmar o assaltante, permitindo que a polícia o detenha. Com isso, Kenshin recupera a sua determinação. 

Este volume serve como um ponto de viragem: ao mesmo tempo que Yahiko demonstra a sua coragem e crescimento, Kenshin encontra novamente um propósito — provar que, mesmo com o peso do passado, pode lutar pelo que é justo. Ao terminar, prepara-se para o próximo passo: resgatar Kamiya Kaoru e enfrentar os desafios que se avizinham. 

Kenshin, o Samurai Errante #25: A Verdade, Nobuhiro Watsuki, Devir, 192 pp., p&b, capa mole, 9,99€

28 de novembro de 2025

Naruto #59: Os Cinco Kage

O volume 59 de Naruto compreende o arco “Quarta Guerra Mundial Shinobi: Confronto / Clímax” — capítulos 556 a 565.

No volume 59, os conflitos da guerra atingem um dos seus pontos mais dramáticos e decisivos. No início, o confronto centra-se no combate entre Gaara e o renascido Segundo Mizukage, cuja técnica especial — a Tirania Fumegante Perigosa — consegue neutralizar a areia defensiva de Gaara. É a astúcia e sincronização com Ōnoki (o Tsuchikage) que permitam derrotar o Mizukage, apesar do poder assustador do seu ninjutsu

Mas a vitória revela-se apenas o prelúdio do caos: neste volume é ressuscitado o temível Madara Uchiha — revivido através de técnicas proibidas. A sua reentrada no conflito transforma a guerra: ele demonstra possuir agora os poderes do lendário clã, inclusive a capacidade de usar técnicas de madeira (Mokuton), herdadas por meio de células de um antigo mestre, conferindo-lhe um poder tremendo. 

A par disso, todos os Cinco Kage — os líderes dos grandes vilarejos — reúnem-se finalmente no campo de batalha, algo inédito até então, para enfrentar a ameaça conjunta. É um momento simbólico e dramático: pela primeira vez, a aliança ninja aposta tudo na união de todos os seus líderes para tentar derrotar Madara.

Enquanto isso, Naruto Uzumaki e Killer Bee mantêm a luta acesa contra os Jinchuuriki ressuscitados e os ninjas transformados pelo exército de clones (Zetsus e Edo Tensei), numa batalha intensa e cheia de reviravoltas. A guerra espalha-se por diversos fronts, com combates de grande escala, decisões desesperadas e sacrifícios. 

Naruto #59: Os Cinco Kage, Nobuhiro Watsuki, Devir, 192 pp., p&b, capa mole, 9,99€

27 de novembro de 2025

Chainsaw Man #13

O volume 13 de Chainsaw Man reúne os capítulos 104 a 112 foi publicado originalmente no Japão a 4 de Janeiro de 2023. Este volume mergulha na vida de Denji e Asa, mostrando como os seus desejos, fragilidades e escolhas se cruzam com a crescente ameaça dos demónios.

Denji continua obcecado com a ideia de revelar ao mundo que é o Chainsaw Man, acreditando que isso lhe trará reconhecimento e uma vida mais plena. Porém, várias pessoas à sua volta tentam travá-lo, conscientes das consequências devastadoras que essa exposição poderá provocar num mundo dominado pelo medo e pelo poder dos demónios. Paralelamente, Asa Mitaka desenvolve uma amizade com Yuko, uma colega aparentemente tímida, mas que esconde um segredo perturbador. Sobrecarregada pelo bullying e por um profundo sentimento de injustiça, Yuko confessa a Asa que selou um pacto com o Justice Devil, adquirindo assim poder para castigar aqueles que a atormentavam.

A situação rapidamente descamba quando Yuko, guiada por um sentido distorcido de justiça, começa a assassinar colegas e transforma a escola num cenário de horror. Asa, dilacerada entre a amizade e o dever, tenta impedi-la, mas o caos intensifica-se: Yuko acaba por sofrer uma mutação grotesca, tornando-se num demónio monstruoso e lançando ainda mais pânico entre estudantes e civis.

Este volume é marcado por um forte conflito emocional, onde temas como a culpa, o desespero, o desejo de aceitação e a fronteira entre justiça e vingança são expostos de forma crua. Enquanto Yuko sucumbe ao peso das suas dores e escolhas extremas, Denji luta com a necessidade de afirmar a sua identidade, mesmo quando isso o coloca no centro de perigos cada vez maiores. O resultado é um capítulo intenso da narrativa, onde o terror sobrenatural e o drama humano se entrelaçam, preparando o terreno para confrontos e revelações ainda mais sombrios.

Chainsaw Man #13, Tatsuki Fujimoto, Devir, 186 pp., p&b, capa mole, 9,99€

O Mercenário - Volumes 7 e 8

Ainda que a série tenha nascido nos anos 80 do século XX, os volumes 7 e 8 marcam um ponto alto da aventura. O tomo 7, intitulado A Viagem, leva o nosso herói a atravessar o Oceano Índico montado no seu dragão voador e desembarcar numa ilha desconhecida. Este lugar, que à primeira vista parece um paraíso exótico, aproxima-se mais dum cenário de sonho: criaturas fantásticas, paisagens estranhas, uma atmosfera de mistério e promessa de riqueza. Mas depressa a beleza se revela enganadora: a ilha esconde um veneno mortal, e as costas escuras desse mundo escondem segredos sombrios. O Mercenário, sozinho e longe de casa, terá de lutar contra as forças da natureza e contra armadilhas traiçoeiras — numa mistura de fantasia épica e toques de ficção científica.

Já o tomo 8,  Ano Mil, O Fim do Mundo, insere a narrativa num contexto dramático e apocalíptico. A tradição — ou o temor — de que o ano mil da nossa era marcaria o fim do mundo move monges da misteriosa Ordem do Cráter, que se preparam para o desastre. Por acaso — ou destino —, O Mercenário acaba por ser transportado para um planeta quase idêntico à Terra, mas devastado e semi-abandonado. Lá descobre vestígios de uma civilização antiga e terríveis seres que outrora dominaram a Terra; compreende que a catástrofe não é apenas simbólica, mas real. Assistimos a uma fusão entre heroic-fantasy, ficção científica e horror — o herói confronta-se com forças maiores do que a mera ambição humana, com o destino de mundos inteiros em jogo.  

Em termos editoriais, o volume 7 foi publicado originalmente em 1995 sob o título El Viaje e o volume 8 seguiu em 1996, sob o nome Año 1000 (ou Año mil. El fin del mundo). 

Quanto às edições em Portugal, ambos os volumes foram publicados nos anos finais do século passado pela extinta Meribérica-Líber.

Estes dois tomos representam — além de histórias profundamente imaginativas — um ponto de viragem na série: combinando o estilo visual meticuloso e pictórico de Segrelles com narrativas cada vez mais audaciosas, misturando fantasia, mistério, ficção científica e temáticas existenciais.

O Mercenário #7: A viagem, Vicente Segrelles, Ala dos Livros, 64 pp., cor, capa dura, 21,90€
O Mercenário #8: Ano Mil. O Fim do Mundo, Vicente Segrelles, Ala dos Livros, 64 pp., cor, capa dura, 21,90€

26 de novembro de 2025

El Diablo

El Diablo, de Lewis Trondheim (argumento) e Alexis Nesme (ilustração) alia humor sombrio, fantasia e um olhar mordaz sobre o comportamento humano. Inserido no projecto Monstres, o livro retoma a tradição de revisitar criaturas lendárias, mas sempre com uma abordagem autoral e irónica, típica de Trondheim.

As coisas estão a correr mal no galeão do capitão espanhol Santoro, nestes dias aventurosos do século XVI. Os mantimentos esgotaram-se, por isso escolheu um grumete... para o comer! O jovem José, agora na ementa da tripulação, avista felizmente uma terra desconhecida e escapa à morte culinária! Nessa terra desconhecida, irá descobrir um animal estranho — amarelo, com manchas negras e uma longa cauda — que Santoro fere, e que quase mata José.

Acolhido pelos índios Chahuta, o grumete descobre que se tornou uma espécie de parente espiritual do Marsupilami, o "espírito da floresta", ao qual está de agora em diante ligado por um elo mágico. Os dois vivenciarão, assim, o sofrimento e as emoções um do outro...

O início de uma relação especial que rapidamente se complicará por causa da desbragada sede de ouro do Capitão Santoro, determinado a deitar as mãos ao suposto El Dorado dos Chahuta...

A narrativa, construída como uma fábula obscura, alterna momentos de franca comicidade com situações de tensão quase grotesca. Trondheim desmonta lugares-comuns das histórias de monstros, aproximando-se, por vezes, do espírito de sátira que se encontra nas aventuras do Marsupilami de André Franquin — não pela inocência ou pelo ritmo slapstick, mas pela habilidade em mostrar como o ser humano reage de modo caótico quando confrontado com o desconhecido e o extraordinário.

A arte de Alexis Nesme reforça esta ambivalência: o traço é minucioso, expressivo, cheio de cor e textura, capaz de misturar encanto e inquietação numa mesma vinheta. Tal como em A Fera, de , onde a criatura funciona como espelho das fragilidades humanas, também em El Diablo o “monstro” é menos importante do que o que ele revela sobre a comunidade — os seus medos, preconceitos e impulsos irracionais.

Longe de ser apenas uma história sobrenatural, El Diablo funciona como comentário social. A facilidade com que o pânico se instala, a busca apressada por culpados e a necessidade de justificar o inexplicável são temas centrais. Com humor negro e uma certa ternura disfarçada, Trondheim e Nesme constroem uma obra que entretém e, ao mesmo tempo, questiona a natureza das crenças colectivas.

O resultado é uma leitura envolvente, visualmente rica e cheia de camadas, que agradará tanto aos leitores de fantasia como aos apreciadores de narrativas irónicas e inteligentes — uma obra que dialoga com a tradição da banda desenhada franco-belga, mas com voz própria e inconfundível.

El Diablo, Alexis Nesme e Lewis Trondheim, A Seita, 64 pp., cor, capa dura, 18,95€

5.ª Edição do Mercado do Contra

No próximo dia 29 de Novembro, entre as 10h e as 19h, realiza-se a 5.ª edição do Mercado do Contra, um evento dedicado à edição independente e à auto publicação, com especial enfoque na Banda Desenhada. Nesta edição, há um reforço na aposta em transformar o mercado num pequeno encontro de celebração, reflexão e partilha em torno da BD contemporânea, dando espaço a autoras, autores, editoras e projetos de todo o país.

Ao longo do dia, o público poderá contar com um programa completo de apresentações, conversas e inaugurações, bem como com um mercado repleto de criadores e editoras independentes.

Programa Completo

11:00 – Apresentação de Circus Minimus, de Daniela Duarte (desenho) e Ricardo Henriques (argumento), pela Isabel Carvalho. Publicação da colecção BEDETECA (Gorila Sentado / Turbina Associação Cultural).

14:30 – Apresentação de Canalha Borrado (A Seita / Mundo Fantasma), com o autor Zé Lázaro Lourenço.

15:00 – Apresentação do fanzine Serigaitos #1, acompanhada de mini-exposição e presença de Marco Mendes e das autoras Juliana Meira, Mariana Santos Matos e Sara Filipe.

15:30 – Apresentação da revista Umbra #5, pelo editor Filipe Abranches.

16:00 – Inauguração da exposição de BD de Diniz ConefreyPashmina e apresentação do seu livro Estância do Sino Coberto (Quarto de Jade).

16:30 – Apresentação do livro Zé Povinho nos dias de hoje (Tentáculo), com Filipe Duarte e Ana Saúde.

17:00 – Apresentação da exposição Os muitos mundos da Gorila Sentado e dos novos lançamentos da editora: King of Bones #1 — Sérgio Hortelão; Last Call #3 — Gonçalo Fernandes; A Requiem on Stage #1 Pedro Nascimento e Miriam Franco.

18:00 – Apresentação de Terrea (A Seita), com Ricardo Cabral e o editor José Hartvig de Freitas.

Programação Extra:

15:00 – 18:00 – Mostra de portfólios com José Hartvig de Freitas (A Seita).

Mercado | 10h00 – 19h00 | Autores, editoras e colectivos presentes: Gonçalo Fernandes, Gonçalo Sobral, Filipe Abranches, Filipe Duarte, Ana Saúde, Pedro Branco Mendes, Atelier Not Found, Ricardo Cabral, Daniel da Silva Lopes, Serigaitos, Rita Fernandes, Bedeteca, Paraíso do Livro (alfarrabista), Vítor Hugo Rocha, Marta Espírito Santo, Quarto de Jade

Sessões de autógrafos com os autores presentes.

Marvila Comics 2025

Marvila Comics é um festival de BD organizado pela Kingpin Books em parceria com a cervejaria Dois Corvos, combinando lançamentos de banda desenhada, exposições, debates e a cultura da cerveja artesanal.  


25 de novembro de 2025

Blake e Mortimer: A dupla exposição

Blake & Mortimer – A Dupla Exposição é um álbum que integra a colecção Le Nouveau Chapitre da série Blake & Mortimer. Os autores são James Huth (argumento) e Laurent Durieux (desenho e cor), com a colaboração de Sonja Shillito

O capitão Francis Blake e o professor Philip Mortimer são apanhados numa intriga de ficção científica/pulp situada num evento de Feira Mundial de 1964. Uma invenção de escala reduzida transforma-os em miniatura ou reduz as suas dimensões, levando-os a um micro-mundo futurista ou maquetado, onde terão de enfrentar adversários e esquemas dos habituais “vilões” da série. Presos em um modelo futurista, conseguirão eles salvar a humanidade dos planos maquiavélicos de seus piores inimigos?

A Dupla Exposição mostra a série Blake & Mortimer sob um prisma diferente: mantém o encanto da aventura, o espírito retro-anos 60 e os heróis clássicos, mas introduz uma invenção original (a máquina que reduz à escala) e um formato visual marcante graças a Laurent Durieux. É uma leitura indicada tanto para fãs de longa data como para novos leitores que queiram experimentar o universo da dupla Blake e Mortimer de forma menos “canónica”.

Blake e Mortimer: A dupla exposição, James Huth e Laurent Durieux, ASA, 72 pp., cor, capa dura, 20,90€

Blake e Mortimer #31: A Ameaça Atlante

A Ameaça Atlante (originalmente em francês: La Menace atlante) é o 31.º álbum da série Blake & Mortimer, com argumento de Yves Sente e desenhos de Peter van Dongen. Foi publicado no mercado francófono no passado dia 21 de Novembro.

Os autores retomam o universo de aventura e ficção científica iniciado por Edgar Pierre Jacobs, nomeadamente fazendo uma sequela ao álbum de 1957,  O Enigma da Atlântida.

Neste álbum, o professor Philip Mortimer é incumbido de uma missão governamental de grande importância: partir para a Escócia para estudar antigas terras vulcânicas e testar a viabilidade de uma instalação geotérmica. 

Enquanto isso, fenómenos terríveis assomam no mar do Norte: nuvens de gases tóxicos surgem, um gigantesco tsunami é provocado por explosões inexplicadas, e corpos momificados provenientes do Doggerland — o leito antigo do mar do Norte — emergem após cerca de 10 000 anos de submersão. 

Perante este cenário, o capitão Francis Blake tem de juntar-se a Mortimer para investigar — o que os conduz a uma exploração submarina onde o seu submersível é avariado, deixando-os vulneráveis. 

Entre os antagonistas destaca-se o sempre sinistro Olrik, mas também o enigmático Magon, que aproveita a crise energética que assola a “Nova-Atlântida” para tentar fugir da sua prisão terrestre e regressar ao seu povo — e, antes, acumular o máximo de “oricalco” (um misterioso metal Atlante) mesmo que isso signifique destruir a Europa do Norte. 

O regresso à Atlântida e aos seus mistérios permite explorar não só a nostalgia da série original de Jacobs como também temas contemporâneos: mudança climática, submersão de terras, exploração geotérmica, impactos ambientais e geo-políticos.

Como habitualmente, haverá uma edição exclusiva para as lojas FNAC com uma capa diferente.

Blake e Mortimer #31: A Ameaça Atlante, Yves Sente e Peter van Dongen, ASA, 64 pp., cor, capa dura, 15,90€

Um tesouro no Sótão: “Superman nº 1” bate recorde mundial em leilão

Há histórias que parecem saídas de uma própria banda desenhada – e a descoberta recente de um exemplar de Superman nº 1, vendido este mês por impressionantes 9,12 milhões de dólares, é uma delas.

Três irmãos, enquanto limpavam o sótão da casa da mãe falecida em São Francisco, encontraram uma caixa de cartão coberta de pó, jornais antigos e teias de aranha. Lá dentro, repousavam silenciosamente algumas raridades que tinham pertencido à família desde os anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Entre elas, estava aquele que viria a tornar-se o exemplar de BD mais caro alguma vez leiloado.

A descoberta não foi totalmente inesperada: a mãe sempre lhes dissera que tinha uma coleção de banda desenhada valiosa, mas nenhum deles a tinha visto. Só quando decidiram preparar a casa para venda é que resolveram explorar a cave e o sótão em busca de memórias familiares — e o que encontraram superou qualquer expectativa.

O vice-presidente de banda desenhada da Heritage Auctions, Lon Allen, voou até São Francisco quando recebeu a mensagem dos irmãos. O especialista confirmou que estavam perante um raro exemplar de Superman nº 1 (1939), lançado originalmente pela Detective Comics Inc. Uma revista que não só marcou o início da era dourada dos super-heróis, como ajudou a cimentar o Homem de Aço como primeiro grande ícone pop do género.

Allen sublinha o quão improvável foi a sobrevivência da revista:

Poderia facilmente ter sido deitada fora ou destruída de mil maneiras. Estava simplesmente numa caixa no sótão.

O clima frio do norte da Califórnia desempenhou um papel crucial na preservação do objecto, mantendo intactos a lombada, as cores vibrantes e até os cantos — um feito raro para uma edição com mais de 80 anos.

Um pequeno anúncio no interior da revista permitiu aos especialistas confirmar que se tratava de um exemplar da primeira impressão, originalmente composta por 500.000 unidades. Estima-se que menos de 500 tenham sobrevivido até aos dias de hoje.

O recorde anterior para a BD mais valiosa tinha sido estabelecido no ano passado com um exemplar de Action Comics nº 1, vendido por 6 milhões de dólares. Em 2022, outro Superman nº 1 tinha alcançado 5,3 milhões. Os números falam por si: o Homem de Aço continua a voar alto no mundo dos coleccionadores.

Os três irmãos, que preferiram manter o anonimato — tal como o comprador — destacaram o lado emocional desta descoberta.

Nunca se tratou apenas de um item de colecção. É um testemunho de memória, família e das formas inesperadas como o passado encontra uma forma de voltar até nós.

Uma história de fortuna, acaso e preservação — e um lembrete perfeito para qualquer leitor ou coleccionador: nunca subestimar o que pode estar escondido no sótão.

24 de novembro de 2025

Jantar-Tertúlia “Astérix em Coura”

No próximo dia 29 de Novembro, realiza-se o jantar-tertúlia Astérix em Coura – A Galécia Irredutível, um encontro entre história, banda desenhada e gastronomia que imagina como seria uma aventura de Astérix e Obélix em Paredes de Coura, no coração da antiga Galécia.

A conversa será conduzida por dois convidados:

Rui Alves de Sousa, crítico de cinema e BD, colaborador de À Pala de Walsh e presença habitual em festivais e colóquios de cultura visual;

Professor Artur Gonçalves, historiador especializado na romanização do noroeste peninsular e nas sociedades galaico-romanas.

O objectivo é cruzar notas históricas sobre a Antiguidade com reflexões sobre a linguagem e o humor dos álbuns de Astérix, num jantar temático com direito a Caldo Verde Mágico, Javali à moda de Obélix e Vinho Verde Alvarinho – a Poção Mágica da Galécia.

23 de novembro de 2025

“Nada é por Acaso”: a vida de Cristiano Ronaldo em novela gráfica

Cristiano Ronaldo dispensa apresentações: ícone global, recordista incansável e atleta cuja trajetória ultrapassa fronteiras, clubes e gerações. Agora, a sua história ganha uma nova forma de ser contada — Nada é por Acaso, a novela gráfica criada por Ivana Jancová e Zuzana Jancová, publicada pela Jacarandá, que transforma o percurso do craque madeirense numa narrativa visual envolvente e inspiradora.

Num formato pensado para leitores jovens e fãs de banda desenhada, o livro acompanha o caminho de Ronaldo desde os seus primeiros toques de bola até ao estatuto de lenda viva. A obra revisita momentos decisivos: a infância na Madeira, a mudança para o Sporting, a explosão no Manchester United, a consagração no Real Madrid, a passagem pela Juventus e a mais recente aventura no Al-Nassr. Mas esta novela gráfica não se limita às façanhas desportivas — explora também os laços familiares, a ética de trabalho e a força interior que moldaram CR7 enquanto jogador e enquanto homem.

Com traço expressivo e narrativa clara, Nada é por Acaso sublinha aquilo que muitos reconhecem em Ronaldo: a coragem de sonhar alto e a disciplina de não desistir. É um livro que celebra o talento, mas sobretudo a determinação — e é isso que o torna apelativo tanto para jovens leitores como para admiradores de longa data.

Uma leitura para todos os que acreditam que os sonhos precisam de esforço, foco e uma boa dose de resiliência. Porque, como o título deixa claro, na vida de Cristiano Ronaldo nada aconteceu… por acaso.

Cristiano Ronaldo: Nada é por acaso, Ivana Jancová e Zuzana Jancová, Jacarandá, 96 pp., cor, capa mole, 15,90€

22 de novembro de 2025

Haddock, un capitaine à l’abordage! — Uma viagem marítima com o Capitão

O novo livro da GEO dedicado ao Capitão Haddock é uma viagem pelo universo marítimo de Tintin e pelo mar real que nos rodeia. Christophe Quillien cruza a figura icónica criada por Hergé com temas atuais — navegação, história náutica, ecologia e desafios dos oceanos — através de textos, imagens e entrevistas com especialistas.

Não é uma BD, mas um beau-livre que celebra Haddock como símbolo da vida no mar e que convida o leitor a descobrir o oceano com novos olhos. Ideal para fãs de Tintin e para todos os que vivem fascinados pelo mundo marítimo.

O livro dedica-se a:

Analisar como o oceano é retratado nas histórias de Tintin, particularmente nas aventuras envolvendo o Capitão Haddock.

Apresentar o vocabulário e os símbolos da navegação: cartas náuticas, sinalização marítima, técnicas de navegação, e outros elementos que ajudam a compreender o “ofício” do marinheiro.

Refletir sobre desafios ambientais e geopolíticos contemporâneos relacionados aos oceanos por meio de entrevistas com navegadores modernos, pesquisadores e ativistas.  Algumas dessas vozes incluem Romain Troublé (diretor da Fundação Tara Océan) e Marianne Tricoire (conservadora no Museu Nacional da Marinha).

Haddock, un capitaine à l’abordage!, GEO/Éditions Moulinsart, 127 pp., cor, capa dura, 29,95€