O projecto teve início em 2008, muito antes de as webcomics se tornarem tendência. Na altura, Daniel Maia decidiu criar um blogue próprio para acolher uma banda desenhada colectiva, construída página a página por diferentes autores. A regra era simples e inspirada no jogo surrealista cadavre exquis: cada autor ou dupla (argumentista e desenhador) acrescentava uma nova página, dando continuidade ou subvertendo a narrativa anterior, enquanto Daniel Maia assegurava uma coerência narrativa que unificasse o resultado final.
O resultado é uma história tão improvável quanto fascinante: “Um incidente num hotel precipita situações insólitas que revelam uma intriga. Uma trindade de Papas faz testes à inovadora tecnologia U.M.D. (Unidade Molecular Destemporizadora), criada pelo Prof. Octávio, que suspende o espaço-tempo numa área limitada.”
Entre 2008 e 2015, a obra foi sendo publicada online, atraindo uma comunidade crescente e diversificada de criadores. Muitos dos participantes eram nomes já reconhecidos da BD nacional, enquanto outros deram aqui os seus primeiros passos. Entre os mais de 50 autores estão André Caetano, Daniel Henriques, Diogo Carvalho, Miguel Mendonça, Kati Zambito, Zé Burnay, Hugo Jesus, Maria João Careto, Sónia Oliveira e Pedro Nascimento, entre muitos outros.
A edição agora lançada em livro reúne 58 páginas da versão original do webcomic, complementadas por uma nova narrativa intitulada A Vingança do Cadáver, que funciona como epílogo e encerra este ciclo criativo de forma inédita.
A apresentação oficial acontece no sábado, no festival AmadoraBD, o maior evento nacional dedicado à banda desenhada.
Com esta edição, Daniel Maia — que fundou a Arga Warga há duas décadas — concretiza um dos projectos mais ambiciosos da BD portuguesa contemporânea.
O autor, nascido em Lisboa em 1978, tem um percurso que abrange criação, crítica, produção e edição, tendo colaborado com editoras como Marvel, Dark Horse Comics, Platinum Pub., Chiaroscuro Studios, Ala dos Livros e Saída de Emergência Edições.
Cadáver Esquisito é mais do que uma banda desenhada — é um manifesto colectivo de liberdade criativa, um retrato da imaginação nacional e da força da colaboração artística.
Cadáver Esquisito, colectivo, Arga Warga, 64 pp., p&b, capa mole, 10€
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