Publicado originalmente em 2020 pelas Éditions Casterman, em francês, e depois traduzido para várias línguas, conta com uma edição de luxo com extras (desenhos preparatórios, story-boards, etc.). Agora, é publicado em português pela Devir.
A narrativa focaliza os anos de formação de Anaïs Nin, principalmente no início da década de 1930. É um período anterior à fama literária plena, em que ela vive entre Paris e outras cidades, casada com Hugo Guiler, mas em profunda inquietude interior.
O diário íntimo de Nin funciona como um fio condutor da narrativa: ponto de fuga, instrumento de autoconhecimento, confidente, espelho e, simultaneamente, instrumento de ambiguidade. Através de encontros decisivos — em especial com Henry Miller — ela começa a libertar-se de convenções literárias e sociais, explorando erotismo, sexualidade, desejo, relações intensas e também tensões familiares (incluindo episódios controversos, como o relacionamento com o pai, como relatado nos diários) que moldam sua identidade e escrita.
O estilo de desenho de Bischoff é delicado, com traços finos, contornos suaves; uso de lápis com mina multicolorido para dar vibração cromática silenciosa. Usa uma paleta de cores que oscila entre tons pastéis e momentos mais sombrios, consoante os estados emocionais de Anaïs. A natureza, elementos florais, formas orgânicas, o mar, imagens marinhas, metáforas visuais são recorrentes.
A obra foi bem recebida, tanto pela crítica literária e especializada em BD, como pelo público. Contudo, alguma crítica aponta que, embora seja uma leitura intensa e bela, pode incomodar pela crueza de algumas revelações íntimas (incesto, múltiplas relações, inclusive os conflitos morais internos de Nin).
Anaïs Nin - No mar das mentiras, Léonie Bischoff, Devir, 192 pp., cor, capa dura, 22€
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