A história acompanha Silêncio, um jovem camponês surdo-mudo e com uma mente simples, que vive numa aldeia marcada por preconceitos, violência e superstições. É através dele — um ser frágil aos olhos dos outros, mas dotado de uma sensibilidade rara — que o leitor entra num universo onde a dureza da vida rural se cruza com o fantástico, a magia e a tragédia.
O contraste entre a inocência de Silêncio e a crueldade daqueles que o rodeiam dá ao livro uma força particular. Comès usa o protagonista como espelho de uma sociedade que marginaliza os diferentes e, ao mesmo tempo, como veículo para uma narrativa carregada de simbolismo. Há no enredo ecos da tradição oral, do xamanismo e do folclore europeu, mas também uma crítica à intolerância e à exclusão.
Do ponto de vista gráfico, o preto e branco de Comès é deslumbrante. Cada página é trabalhada com uma intensidade expressiva que reforça a atmosfera sombria da história. A ausência de cor não é uma limitação, mas sim uma escolha estética que amplia a profundidade emocional e poética da obra.
Mais de quatro décadas depois da sua publicação, Silêncio permanece atual e tocante. É um livro que fala da diferença, da opressão, mas também da ternura e da possibilidade de ver o mundo através de outros olhos. Um clássico da banda desenhada que continua a comover leitores e a inspirar novos autores.
Silêncio, Didier Comès, Devir, 144 pp., p&b, capa dura, 22€
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