30 de setembro de 2025

Impenetrável, de Alix Garin

Alix Garin, autora belga jovem, oferece-nos com Impenetrável (Impénétrable, 2024) um testemunho brutalmente honesto sobre dor, vulnerabilidade, sexualidade e cura.

No centro da narrativa está o vaginismo — um distúrbio sexual caracterizado pela incapacidade de penetração, acompanhado de dor física ou angústia —, que Alix sofreu durante cerca de dois anos.

A partir dessa experiência pessoal, Impenetrável mostra o seu percurso para reconquistar o corpo e, com ele, o desejo. Não é apenas um registo de sofrimento: é também uma viagem de auto-descoberta, de reconstrução emocional, de confrontar o passado, as normas sociais, a culpa e a solidão. 

A obra divide-se mais ou menos em duas grandes partes: a parte de “sofrimento/estagnação” — onde Alix revela o impacto físico e psíquico do vaginismo — e a parte de “cura/avançar”, com tentativas de diálogo, tratamento, enfrentamento de expectativas pessoais e sociais.

O estilo gráfico de Alix Garin é intimista; ela não busca efeitos chocantes ou exagerados, mas sim construir uma narrativa delicada, que torna visíveis os estados emocionais: angústia, vergonha, desejo, medo, esperança. As cenas de silêncio, o traço expressivo nos rostos, e a forma como o “interior” da personagem se manifesta (memórias, dúvidas, pensamentos) são centrais. 

Impenetrável é uma obra corajosa — uma novela gráfica que não apenas relata dor, mas mostra o caminho para recuperar o corpo, o desejo, e a própria voz. Alix Garin oferece muito mais do que uma autobiografia dolorosa: oferece esperança, autenticidade, e uma chamada à empatia. É leitura recomendada para quem procura obras que desafiam silêncios, elevam vozes invisibilizadas e renovam o sentido de que o corpo também conta a história da alma.

Impenetrável, Alix Garin, ASA, 304 pp., cor, capa mole, 32,90€



Sem comentários:

Enviar um comentário