O tempo é o mais cruel dos deuses. Aaricia suspirou pela última vez. Sozinho na margem, no crepúsculo da sua vida, Thorgal observa o barco que transporta a sua amada para a sua última viagem, esmagado pela dor. É nesse momento que Thorgal vê ser-lhe oferecido pelo seu velho inimigo, a serpente Nidhogg, o anel de Ouroboros... Se o colocar no dedo, poderá voltar ao passado e rever o amor da sua vida. Uma tentação terrível, à qual nem o herói mais sensato consegue resistir. Começa então para Thorgal uma perigosa aventura cujo desafio não será apenas a sua vida e a daqueles que amou, mas a própria existência do seu destino.
Robin Recht é uma das estrelas actuais da BD francesa. Nascido na geração que se estreou nos role-playing games, como Dungeons & Dragons, e na fantasia heróica, Recht adora Thorgal, uma das séries da sua infância, e criou com este álbum uma história que tem as suas raízes no amor que une o herói a Aaricia. Graficamente, o desafio de assinar um álbum desta personagem está mais que conseguido, seguindo nos passos de Rosinski, com um desenho talvez ainda mais majestoso. Recht sai do formato clássico do álbum de 48 páginas franco-belga, libertando-se dessa limitação, com um livro que conta com cerca de cem pranchas belíssimas, no formato maior da BD franco-belga, com uma planificação generosa e imponente.
Quanto ao cenário, utiliza muitos elementos conhecidos, antes de virar para uma direcção inesperada. E o início não poderia ser melhor, dando-nos a ver um Thorgal idoso a contracenar com um Thorgal jovem, num enredo onde o amor e a aventura surgem interligados num maravilhoso cenário nórdico. A inclusão de uma viagem no tempo confere originalidade ao enredo e representa, de certa forma, um piscar de olhos à longevidade da saga. Jogando em dois espaços temporais diferentes, o autor permite contrapor um Thorgal solitário, no crepúsculo da sua vida, desgastado, mas mais maduro, com a essência da personagem, o Thorgal mais jovem, fresco e imaturo.
Quer gráfica, quer narrativamente, Adeus Aaricia destaca-se como um dos melhores títulos de Thorgal dos últimos anos. Tal como os álbuns mais recentes, este livro pode ser lido sem grande conhecimento prévio da série, e os fãs podem mergulhar directamente na leitura emocionante de uma narrativa que não se limita a copiar o original.
A edição portuguesa d’A Seita inclui um caderno final inédito na versão normal francesa, com uma dúzia de páginas, que inclui esboços e estudos gráficos, exemplos de planificação e ilustrações várias, e um conjunto de observações do autor.
Nascido em 1974, Robin Recht ingressou na École nationale supérieure des Arts Décoratifs de Paris, mas ainda antes de obter o seu diploma abandonou os estudos para se dedicar inteiramente à BD. Depois de alguns álbuns iniciais, em 2010 desenhou Julius (com Alex Alice e Xavier Dorison) uma prequela da famosa tetralogia O Terceiro Testamento. Aventurou-se também na escrita em 2012, assinando a adaptação do clássico Notre-Dame de Paris de Victor Hugo, com Jean Bastide como desenhador. Graficamente virtuoso e capaz de adoptar estilos muito variados, tornou-se mais conhecido ainda com os seus álbuns de heroic fantasy, em séries como Elric (com Didier Poli, série que obteve grande sucesso junto do público) ou A Filha do Gigante do Gelo (notável adaptação de um conto de Conan), mas também com um estilo menos realista de BD com Désintégration - Journal d'un conseiller à Matignon (com Matthieu Angotti em Delcourt em 2017), entre outros. Com Thorgal Saga: Adeus Aaricia, Recht regressa à sua paixão pela fantasia fantasia medieval.
Thorgal Saga #1: Adeus Aaricia, Robin Retch, A Seita, 120 pp., cor, capa dura, 28€
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