Zaqueu começa com Z, a última letra do alfabeto. Deslocado por natureza e vocação: Zaqueu nasceu albino, de cabelos e pele mais que brancos, em meio a uma família de gente morena. Nasceu artista, embora a sua família nem imagine o que seja isso. Pobre, mas estuda em escola de rico – o patrão do seu pai é um sujeito generoso. Mesmo numa cidade de 12 milhões de habitantes, Zaqueu procura o seu lugar, talvez em vão, mas procura. Mais: procura beleza numa cidade feia, feiúra que grita aos olhos dos outros, mas não aos dele, não aos olhos vermelhos de Zaqueu. A feiúra fascina Zaqueu, a feiúra o encanta – mas não a ponto de virar beleza, pois beleza não tem graça. Todo o prédio bonito é igual, mas cada prédio feio é feio à sua maneira. O mesmo vale para garotas, por que não? Zaqueu sabe que São Paulo vai devorá-lo vais cedo ou mais tarde. Pois que venha, então.
Matei o meu Pai e foi estranho, André Diniz, Polvo, 120 pp., p&b, capa flexível, 10,90€
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