Brahy emprega um traço detalhado e expressivo, capaz de transmitir tanto a grandiosidade ameaçadora da paisagem quanto o desgaste psicológico das personagens. A paleta de cores sombrias e os contrastes fortes reforçam a sensação de que o protagonista se afasta progressivamente da racionalidade europeia e se aproxima de um território onde as fronteiras entre civilização e barbárie se dissolvem. Assim, cada quadro funciona como uma extensão da prosa de Conrad, visualizando a névoa, a escuridão e o silêncio que compõem o cenário emocional da obra.
A figura de Kurtz, enigmática e quase mítica, ganha um impacto renovado quando traduzida em imagens. A sua presença — muitas vezes anunciada antes de aparecer — é construída graficamente de modo a acentuar a tensão e o mistério que rodeiam a sua figura. O encontro entre Marlow e Kurtz, momento crucial tanto no livro quanto no romance gráfico, adquire uma força dramática ampliada pela composição das páginas e pelo uso do espaço visual.
Joseph Conrad nasceu na Ucrânia a 3 de Dezembro de 1857, filho de pais polacos, exilados devido a atividades políticas. Conrad ficou órfão de pai aos onze anos, tendo sido deixado ao cuidado de um tio materno que exerceu grande influência sobre ele.
A partir de 1874, Conrad, então a viver em Marselha, iniciou a sua aprendizagem como marinheiro, tendo ingressado na Marinha Mercante Britânica e adoptado a nacionalidade inglesa em 1886.
Conrad era conhecido por dois aspectos contraditórios do seu carácter. Era ao mesmo tempo irritável e amável. Todos os que o conheceram afirmavam também que era um homem de grande ironia.
Usava monóculo, não gostava de poesia, excepto dos versos do seu amigo Arthur Symons e talvez de Keats. Detestava Dostoievski por ser russo e escrever romances que lhe pareciam confusos. Era um grande leitor, sendo Flaubert e Maupassant os seus autores favoritos.
Durantes muitos anos, Conrad atravessou dificuldades financeiras e sentiu a incompreensão dos críticos e a indiferença dos leitores. O livro que o tornou conhecido foi Chance, publicado em 1913. Nos dez anos que se seguiram tornou-se um dos mais reconhecidos autores de língua inglesa.
Conrad casou-se aos 38 anos, nunca deixando de oferecer um presente à sua mulher cada vez que acabava um dos seus livros. Morreu subitamente a 3 de Agosto de 1924, na sua casa em Kent, na Grã-Bretanha. Sentira-se mal no dia anterior, mas nada deixava adivinhar a iminência da morte.
Tinha sessenta e seis anos, e dele se disse que cumpriu três vidas, a de polaco, a de marinheiro e a de escritor.
O coração das trevas, Luc Brahy, Relógio d'Água, 108 pp., cor, capa mole, 20€



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