28 de novembro de 2015

Conferência Centenário de Quim e Manecas de Stuart Carvalhais


Conferência por João Paulo Paiva Boléo sobre Quim e Manecas, ainda hoje os mais populares e conseguidos heróis da BD portuguesa, no auditório da Biblioteca Nacional, pelas 18.30 h. A entrada é livre.

Assim como se pode dizer que o século XX começou verdadeiramente em 1914, com a Grande Guerra, a Banda Desenhada (BD) portuguesa entrou no século XX com Quim e Manecas do grande artista gráfico Stuart Carvalhais (Vila Real, 1887-Lisboa, 1961).

Quim e Manecas foram criados n'O Século Cómico em Janeiro de 1915. Até Junho de 1916 tratou-se de uma publicação autónoma de formato tabloide. A partir de Julho desse ano, foi integrado na Ilustração Portuguesa, em formato de revista. Quim e Manecas, série com mais de 500 episódios espalhados por vários jornais e revistas, que durou até 1953, terminou a primeira fase logo a seguir ao Armistício, em Novembro de 1918.

Esta obra de Stuart, que não só revoluciona a banda desenhada portuguesa como a coloca na vanguarda da BD europeia, pode ser considerada a grande banda desenhada republicana, não só pela sua durabilidade e qualidade, mas porque reflecte acontecimentos, posicionamentos, perplexidades e interpelações intimamente ligadas a esse período da História portuguesa. É o Portugal político, social, cultural que está presente, são os anos coincidentes com a I Guerra Mundial que têm uma presença central. Quim e Manecas são apoiantes de Afonso Costa, por quem são condecorados, e não só participam na Grande Guerra como o fazem antes de Portugal, dando um contributo decisivo para a vitória dos Aliados.

Quim e Manecas recebem uma condecoração das mãos de Afonso Costa, pormenor da prancha «De como o Quim e o Manecas tomaram o Governo Civil e do mais que a diante se verá», «O Século Cómico», n.º 916, 27 Maio 1915.A utilização sistemática dos balões nas primeiras 27 pranchas não pode ser menosprezada no contexto da história da BD europeia. Mas os méritos transcendem esse importante aspecto. À qualidade e sedução literária do texto, com vários níveis de leitura, tendo a importante participação de Acácio de Paiva (Leiria, 1863 - Olival, Ourém, 1944), diretor d'O Século Cómico, alia-se o traço fácil e expressivo, a construção da sequência e da prancha como um todo, a modernidade de ritmo, a qualidade, leveza e agilidade gráfica, a beleza e o domínio dos recursos específicos da BD, a harmonia estética e cromática de muitas páginas, um humor que transparece não só do texto e dos diálogos mas das próprias personagens, das situações, da ação, a ternura das figuras principais, que fazem de Quim e Manecas, com e sem balões, uma das grandes e mais significativas obras da Arte portuguesa do início do nosso modernismo e da nossa modernidade.

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