3 de agosto de 2023

Balada do Desterro

Alguns episódios da vida de José Afonso são contados numa banda desenhada luso-galega, de Teresa Moure e Maria João Worm, editada esta semana, quando se assinalam os 94 anos do nascimento do cantautor português.

Balada do Desterro – Zeca Afonso” sai com o selo da editora portuguesa Tradisom, mas resulta de uma parceria com a editora galega aCentral Folque, da qual partiu a ideia do projecto editorial, como contou à Lusa o editor José Moças.

O livro foi escrito pela autora galega Teresa Moure, docente na Universidade de Santiago de Compostela, e desenhado pela portuguesa Maria João Worm.

Nas últimas páginas de “Balada do Desterro” é explicado que este livro romanceia a vida de José Afonso: “Todo o escrito numa ficção é necessariamente falso. Pode apoiar-se documentalmente em livros de investigação, em eventos realmente sucedidos, em entrevistas, nas lembranças dos vivos, mas é falso. Menciona figuras reais, mas é falso. Tenta seguir o rigor do acontecido, mas está condenado a ser falso”.

A narrativa segue uma cronologia da vida de José Afonso, mas equilibra-se sobretudo entre a relação com África, em particular com Moçambique, e com a Galiza, em Espanha, cujo apreço pela música do cantautor português permanece até à atualidade.

Cruzando ficção e realidade, as autoras desta banda desenhada sublinham ainda a figura feminina na vida do músico, nomeadamente com referência às duas filhas, que teve com duas mulheres, ou com a ilustração das músicas “Teresa Torga” e “As sete mulheres do Minho”.

Com um trabalho visual que se assemelha a um teatro de sombras, “Balada do Desterro” faz ainda referência à censura do Estado Novo, à prisão de José Afonso em Caxias, à revolução de 25 de Abril de 1974, à importância de “Grândola, Vila Morena”, tanto em Portugal como na Galiza.

No livro, José Afonso é retratado como tendo um “caráter melancólico”, que vivia os concertos como “se fosse colocado numa montra para a contemplação pública”, que adorava Joan Baez, Bob Dylan e Jacques Brel, mas que detestava “modas e modernices”.

Na nota de apresentação de “Balada do Desterro”, Teresa Moure e Maria João Worm dizem sentir “fascínio por aquele homem que cantava causas políticas”.

Mas, entre palavras e silhuetas, ambas tecem uma rede para sustentar um Zeca mais íntimo do que habitualmente os seus camaradas lembram”, refere a Tradisom.

in LUSA

Sem comentários:

Enviar um comentário