23 de novembro de 2025

“Nada é por Acaso”: a vida de Cristiano Ronaldo em novela gráfica

Cristiano Ronaldo dispensa apresentações: ícone global, recordista incansável e atleta cuja trajetória ultrapassa fronteiras, clubes e gerações. Agora, a sua história ganha uma nova forma de ser contada — Nada é por Acaso, a novela gráfica criada por Ivana Jancová e Zuzana Jancová, publicada pela Jacarandá, que transforma o percurso do craque madeirense numa narrativa visual envolvente e inspiradora.

Num formato pensado para leitores jovens e fãs de banda desenhada, o livro acompanha o caminho de Ronaldo desde os seus primeiros toques de bola até ao estatuto de lenda viva. A obra revisita momentos decisivos: a infância na Madeira, a mudança para o Sporting, a explosão no Manchester United, a consagração no Real Madrid, a passagem pela Juventus e a mais recente aventura no Al-Nassr. Mas esta novela gráfica não se limita às façanhas desportivas — explora também os laços familiares, a ética de trabalho e a força interior que moldaram CR7 enquanto jogador e enquanto homem.

Com traço expressivo e narrativa clara, Nada é por Acaso sublinha aquilo que muitos reconhecem em Ronaldo: a coragem de sonhar alto e a disciplina de não desistir. É um livro que celebra o talento, mas sobretudo a determinação — e é isso que o torna apelativo tanto para jovens leitores como para admiradores de longa data.

Uma leitura para todos os que acreditam que os sonhos precisam de esforço, foco e uma boa dose de resiliência. Porque, como o título deixa claro, na vida de Cristiano Ronaldo nada aconteceu… por acaso.

Cristiano Ronaldo: Nada é por acaso, Ivana Jancová e Zuzana Jancová, Jacarandá, 96 pp., cor, capa mole, 15,90€

22 de novembro de 2025

Haddock, un capitaine à l’abordage! — Uma viagem marítima com o Capitão

O novo livro da GEO dedicado ao Capitão Haddock é uma viagem pelo universo marítimo de Tintin e pelo mar real que nos rodeia. Christophe Quillien cruza a figura icónica criada por Hergé com temas atuais — navegação, história náutica, ecologia e desafios dos oceanos — através de textos, imagens e entrevistas com especialistas.

Não é uma BD, mas um beau-livre que celebra Haddock como símbolo da vida no mar e que convida o leitor a descobrir o oceano com novos olhos. Ideal para fãs de Tintin e para todos os que vivem fascinados pelo mundo marítimo.

O livro dedica-se a:

Analisar como o oceano é retratado nas histórias de Tintin, particularmente nas aventuras envolvendo o Capitão Haddock.

Apresentar o vocabulário e os símbolos da navegação: cartas náuticas, sinalização marítima, técnicas de navegação, e outros elementos que ajudam a compreender o “ofício” do marinheiro.

Refletir sobre desafios ambientais e geopolíticos contemporâneos relacionados aos oceanos por meio de entrevistas com navegadores modernos, pesquisadores e ativistas.  Algumas dessas vozes incluem Romain Troublé (diretor da Fundação Tara Océan) e Marianne Tricoire (conservadora no Museu Nacional da Marinha).

Haddock, un capitaine à l’abordage!, GEO/Éditions Moulinsart, 127 pp., cor, capa dura, 29,95€ 

21 de novembro de 2025

Terrea: a cidade da Deusa e o mapa mutável de Ricardo Cabral

Há livros que nascem prontos e há outros que se revelam aos poucos, como territórios que vão emergindo da neblina. Terrea, o novo volume de Ricardo Cabral, pertence a esta segunda linhagem: não apenas pela sua génese fragmentada, dispersa entre cadernos, serigrafias e publicações do The Lisbon Studio, mas sobretudo pelo modo como a própria história parece ter descoberto, quase por acidente, que queria existir.

A cidade da Deusa — Terrea — é o centro irradiador desta saga fantástica. Rival das enigmáticas Três Sombras, é a partir dessa tensão primordial que se desenrola um universo onde exércitos fracassados, viajantes entre mundos e forças obscuras coexistem num equilíbrio precário. A narrativa, porém, não se impõe de forma convencional. Há algo de orgânico na evolução deste projeto, como se cada vinheta fosse uma porta, cada página um gesto de intuição. O que começou, em 2015, como um pequeno livro A5 de desenhos automáticos, impressos em serigrafia, foi-se metamorfoseando em banda desenhada — primeiro insinuada, depois plenamente assumida.

Essa transformação é, talvez, a maior força de Terrea: vê-se no traço, que oscila entre a precisão arquitetónica e a vibração onírica; sente-se na composição, que não tem receio de sobreposições, rupturas, progressões inesperadas. É um livro que convida o leitor a entrar por camadas, mais sensorial e atmosférico do que explicativo, mas sempre guiado por uma coerência interna que vai surgindo — quase como um ritual — à medida que avançamos.

Ricardo Cabral, autor lisboeta com um percurso sólido na banda desenhada portuguesa, tem vindo a explorar desde cedo a relação entre observação e ficção. Os seus livros de viagens — Israel Sketchbook, NewBorn – 10 dias no Kosovo ou Pontas Soltas — mostram-nos um olhar atento ao real, mas Terrea sugere que essa mesma atenção pode ser transposta para o fantástico. Aqui, o autor revela-se tanto arquitecto de mundos como intérprete de atmosferas. E se a sua colaboração recente com a Dark Horse (Wiper e Summer Shadows, ambos escritos por John Harris Dunning) comprova a sua versatilidade, Terrea é talvez o projecto onde essa versatilidade se exprime com maior liberdade.

Este volume coloca fim ao primeiro ciclo de Terrea, reunindo capítulos dispersos, inclusive inéditos, e oferecendo ao leitor uma visão total da evolução do universo da Deusa. Mas fica a impressão — assumida ou não — de que este fim é também um ponto de partida. A cidade continua ali, silenciosa, à espera de ser redescoberta. E o mundo que Cabral ergueu, com a delicadeza de quem desenha para ver melhor, não parece de modo algum esgotado.

Terrea é, no fundo, uma prova de que a banda desenhada portuguesa continua a ser um território fértil para a experimentação visual e narrativa. E um lembrete de que, às vezes, as grandes sagas começam com um simples gesto: o traço que surge sem intenção, mas que insiste em contar uma história.

Terrea, Ricardo Cabral, A Seita, 64 pp., cor, capa dura, 24€

Dakota 1880

Inserido na colecção "Lucky Luke visto por...", Dakota 1880, de Apollo (argumento) e Brüno (ilustração) revisita o imaginário do Oeste norte-americano através de uma lente simultaneamente minimalista, dura e profundamente atmosférica. Longe do western clássico povoado por heróis infalíveis e paisagens românticas, Apollo e Brüno constroem uma narrativa seca, quase áspera, onde o silêncio, o isolamento e a violência latente definem tanto as personagens como o próprio território.

Dakota, 1880. Acompanhado por Hank Bully e pelo jovem BaldwinLucky Luke acompanha uma diligência até à Califórnia. Uma viagem do norte ao oeste dos Estados Unidos, contada em sete histórias e outros tantos encontros. Escravos libertos, mulheres românticas ou impetuosas, um fotógrafo visionário, pistoleiros experientes, poetas e nativos americanos cruzam-se com Lucky Luke e os seus companheiros.

Antes de encontrar Jolly Jumper e defrontar os irmãos DaltonLucky Luke foi guarda de diligência e atravessou o Oeste, sobrevivendo a um enforcamento (o que lhe valeu a alcunha de “Lucky”). Uma longa viagem, em que, além de índios e desperados, enfrentou a fúria da Natureza selvagem e encontrou personagens históricas como Louis RielAnnie Oakley, os poetas Paul V. Sullivan e John Arthur Cullingam, o fotógrafo Curly Wilcox e o escritor Baldwin Chenier, cujos relatos inspiraram as sete histórias curtas deste livro, onde a História e a lenda se confundem, criadas pelo argumentista Appollo e pelo artista Brüno, duas importantes vozes da nova banda desenhada franco-belga, e que nos mostram um Lucky Luke na sua juventude, antes de ser o Luke que conhecemos, numa homenagem que nos apresenta um herói mais realista.

Apollo, com o seu estilo conciso, estabelece tensões subtis e deixa espaço para que o leitor respire, observe e preencha os silêncios.

O desenho de Brüno, característico pelo uso de formas simples, composições geométricas e contrastes fortes, imprime à obra uma estética quase cinematográfica. O seu traço depurado, próximo de um noir despojado, reforça a aridez dos ambientes e a crueldade crua de uma época em que cada gesto podia significar vida ou morte. A economia de linhas e a ausência de excessos visuais criam uma atmosfera que lembra tanto o western crepuscular como a banda desenhada de género mais contemporânea.

Apesar da ambientação histórica, Dakota 1880 não é um exercício nostálgico. Pelo contrário, trata-se de um western desromantizado, que olha para a fronteira como um espaço de conflito, cobiça e reconstrução permanente. A narrativa convida a reflectir sobre temas como a ocupação territorial, a violência estrutural e a formação de identidades num cenário onde quase tudo se encontra em disputa.

A Seita continua a sua colecção de homenagens Lucky Luke visto por... com o magnífico Dakota 1880, de Brüno e Appollo que recolhe sete histórias curtas de um jovem Lucky Luke, passadas imediatamente antes de Morris começar a contar as suas aventuras no álbum Arizona 1880, de 1946. Uma recolha de sete histórias curtas, seguindo o modelo de Sept Histoires de Lucky Luke, álbum de Morris e Goscinny, de 1974, que reúne uma das mais prestigiadas duplas de autores da moderna BD franco-belga. A edição portuguesa d’A Seita, lançada em simultâneo com a edição francesa, conta com duas capas diferentes, uma delas exclusiva da Wook, e dois ex-libris separados, um para a edição normal, para os 100 primeiros compradores no nosso site, e outro para os primeiros 100 da versão da Wook.

Natural da Tunísia, onde nasceu em 1969, Olivier Appollodorus, que assina Appollo, cresceu na África do Norte e na ilha da Reunião. Por entre uma carreira como professor de literatura e escritor, sempre viveu a paixão da BD. Em adolescente ajudou a fundar uma revista de banda desenhada, em 1986, publicada até ao início do século XXI, e mais tarde colaborou com o desenhador Mad, que conheceu quando estudava em Paris, e com quem assinou três álbuns que o lançaram como autor de BD. Desde então colaborou com muitos dos grandes desenhadores da BD francesa, como Lewis Trondheim ou Manu Brughera, entre outros, mas sobretudo com Brüno, que passou a ser o seu principal colaborador. A dupla assinou muitos álbuns, entre os quais este Dakota 1880. Em 2012, Appollo foi laureado com o prémio Jacques Lob, que recompensa um argumentista pelo conjunto da sua obra.

Nascido em 1975, Brüno estreou-se como autor de BD em 1996, com alguns álbuns publicados em editoras pequenas ao longo dos anos seguintes, antes de passar para a Vents d’Ouest em 2001, onde assinou a série Inner city blues, com argumento de Fatima Ammari-B. Mas é o seu encontro com Appollo em 2007 que vai mudar a sua carreira. Assina com ele pela Dargaud vários álbuns de sucesso, incluindo L'homme qui tua Chris Kyle, uma BD/reportagem sobre o soldado americano que inspirou o filme American Sniper, de Clint Eastwood, e colabora com argumentistas vários, incluindo Fabien Nury, com quem cria a série série Tyler Cross. As suas colaborações com estes dois argumentistas continuaram a bom ritmo, e Dakota 1880 é o seu mais recente trabalho com Appollo.

Uma homenagem a Lucky Luke criado por Morris: Dakota 1880, Appollo e Brüno, A Seita, 64 pp., cor, capa dura, 19€

19 de novembro de 2025

A Arte Suprema Ópera BD de Luís Soldado em Torres Vedras

 


Depois de revisitar figuras femininas marginalizadas na sua trilogia dedicada a “mulheres escarnecidas”, a AREPO apresenta A ARTE SUPREMA, uma ópera original inspirada na novela gráfica de Rui Zink e António Jorge Gonçalves. Com música de Luís Soldado e encenação de Linda Valadas, a estreia acontece a 21 e 22 de Novembro no Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras.

A história acompanha Idalina, uma mulher invisível que limpa as casas de gente visível — actores, escritores, dançarinos. Num enredo que oscila entre o absurdo e o poético, um incidente quase cómico transforma-a, por um “milagre muito humano”, numa espécie de super-mulher que acaba por salvar o mundo.

Com música de Luís Soldado, libreto de Rui Zink e encenação de Linda Valadas, a obra conta ainda com a projecção das ilustrações originais de António Jorge Gonçalves, que ganham vida em cena. A interpretação estará a cargo de um ensemble de três músicos e dois cantores, num formato intimista que reforça o diálogo entre som e imagem.

A Arte Suprema encerra a trilogia da AREPO dedicada a “mulheres escarnecidas”, depois de Não há machado que corte (2022) e O nosso amor é – uma ópera para Natália de Andrade (2024). Ao contrário das protagonistas anteriores, inspiradas em figuras reais, Idalina é uma personagem ficcional que representa as muitas mulheres reais que permanecem invisíveis — as trabalhadoras da limpeza, as chamadas “mulheres-a-dias”.

A Arte Suprema conta com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras, Câmara Municipal de Mafra e Antena 2.