14 de maio de 2020

O Círculo de Júpiter

Solitários. Alcoólicos. Infiéis. Dissimulados. Ciumentos. Perfeitos.
Mesmo os nossos pais foram jovens em tempo.

Na América da era dourada dos anos 50, os maiores super-heróis do mundo triunfam sobre ameaças cósmicas em batalhas épicas, mas são diariamente testados nas suas lutas privadas. Os acontecimentos sociais e políticos daqueles anos vão ter um custo pessoal pesado, à medida que as desconfianças e a traição ensombram relacionamentos que pareciam eternos.

Mark Millar é o escritor de muitas séries de comics aclamadas, muitas das quais já foram adaptadas ao grande ecrã, estando muitas outras em adaptação para o cinema, e, depois da recente aquisição da Millarworld pela Netflix, para a televisão. A G. Floy tem vindo a editar uma parte importante da sua obra de BD independente, com inúmeros títulos já publicados, como O Legado de Júpiter, Kick-Ass, Huck, Kingsman, Némesis, etc...

O Círculo de Júpiter é a prequela  de O Legado de Júpiter, e faz os leitores voltarem à era dourada dos comics, de Hollywood e dos super-heróis, uma era idealizada, mais pura e ingénua e mais... negra, cínica, terrível? Com O Círculo de Júpiter, Millar conta a história da primeira geração de seres humanos com super-poderes, e explica a origem dos conflitos, ressentimentos, e rivalidades entre eles, que pudemos observar em O Legado de Júpiter. Mais mais do que mostrar uma era ideal, Millar confronta os leitores com o facto de que a era dourada não foi de ouro, que preconceitos de raça, de género, de ideais políticas, moldaram e desfiguraram as acções das suas personagens, pelo meio de cenas de sexo, bebedeiras e drogas, enganos e traições.

“Todas as gerações falam das que as precederam como sendo maiores, a melhores, como gerações que devem ser idealizadas e veneradas”, diz Millar. “Mas elas eram tão estúpidas como a nossa. E fiquei fascinado com esta ideia de mostrar os pais dos protagonistas como os jovens.” O resultado é uma história de super-heróis a comportarem-se como tudo menos supers, numa saga ao mesmo tempo épica e melancólica, terrível e negra. No mundo de O Círculo de Júpiter não existe super-poder capaz de combater o racismo, o sexismo, o ciúme e a inveja, e a homofobia.

A arte de O Círculo de Júpiter está a cargo de uma mão-cheia de desenhadores que procuraram recriar um estilo limpo, directo, que evoca a Silver Age dos comics, com os seus toques de pop-art, “cujos heróis parecem que saíram do cérebro do Roy Lichtenstein” (Alex Abad-Santos, Vox). Wilfredo Torres é um dos principais desenhadores da série, com uma carreira já longa por várias editoras americanas (Dynamite, DC, Dark Horse, Marvel, etc...); tal como ele, os outros desenhadores da série colaboram pela primeira vez com Mark Millar neste livro. David Gianfelice é um artista italiano com carreira nos fumetti, mas com trabalhos assinados também na Marvel, e na Vertigo (Northlanders). E Chris Sprouse é bem conhecido dos fãs de comics pelo seu trabalho em inúmeros títulos e séries, mas sobretudo em Tom Strong, com Alan Moore, uma personagem que evoca de certa maneira o mundo aparentemente inocente e brilhante de O Círculo de Júpiter.

“O Círculo de Júpiter é o Mad Men da banda desenhada.”
- Vox

O Círculo de Júpiter [reúne a série completa de JUPITER’S CIRCLE #1-12], Mark Millar, Wilfredo Torres, David Gianfelice e Chris Sprouse, G. Floy, 296 pp., capa dura, cor, 28€














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